quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Sem título

O fim de relacionamento é como a morte, é preciso enterrar e viver o luto para conseguir seguir em frente. A dor de amar alguém sem ser correspondido é como respirar um ar cortante, sinto o desespero de tentar livrar-me da dor que me consome por dentro sem saber como tirá-la daqui. Para onde quer que eu olhe, pra onde quer que eu vá, essa dor acompanha, ela se resume em lágrimas que me deixam de nariz vermelho e entupido e com um gosto horrível na boca. Acho que esse é uma das coisas mais amargas que já experimentei na vida, é pior do que aquele gosto de cabo de guarda-chuva que fica na boca pela manhã. E o que intensifica mais ainda a dor da perda é a certeza de que é preciso esquecer sem ter ideia de como fazê-lo. Um dia acontece, e aí você percebe que passou. Mas até lá...


“Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
e te querendo eu vou tentando te encontrar
Vou me perdendo...”

terça-feira, 20 de novembro de 2012

O passado que não era seu - Parte 2

De mãos cortadas e pouco cicatrizadas, voltou à cama naquela noite. Acordou em meio àqueles mesmos corredores, algumas portas estavam abertas e outras tantas continuavam fechadas. Não fazia a minha ideia de por que entrou naquele mundo que surgira, parecia-lhe interessante, causava-lhe admiração, mas também dor, uma dor profunda que não era provocada pelos cortes na mão, estedia-se por dentro de seu corpo e não conseguia detectá-la. Encontrou a foto que faltava no porta-retrato, estava em uma gaveta de uma porta que se abrira recentemente. A porta deve ter sido aberta por acidente, pois aquela voz continuava a dizer “esse passado não pertence a você”. Nem aquele passado nem o presente que o alimentava. A voz a guiava pelos corredores, mostrava-lhe algumas paisagens que se guardavam atrás das portas, mas logo se fechava, ela já tinha visto o bastante e não tinha mais o direito de estar ali.


“Suas mãos ainda estão machucadas”, disse-lhe a voz. “Não deveria ter mexido no que não lhe dizia respeito, apenas o que mostro deve ser visto”. Ela não entendeu. “As minhas mãos não doem mais” respondeu-lhe. “Você me trouxe até aqui, deparei-me com as portas e quis explorá-las”, continuou. A voz nada disse e seu dono apareceu, olho-a nos olhos, suspirou e abraçou-a com ternura. As angústias dores haviam passado e, naquele momento, nada podia ser melhor do que estar ali, ainda que não fizesse ideia de onde estava. Todas as portas pareciam estar abertas, mas ele não a guiava através de nenhuma delas ela apenas podia contemplar a distância o que ele lhe oferecia. E então ele sumiu e todas as portas estavam fechadas novamente, não era possível sequer espreitá-las. A sensação boa provocada pelo abraço foi embora juntamente com o misterioso dono da voz. A dor e a angústia retornaram exatamente para onde estavam, com a mesma intensidade e, agregado, o medo. Medo de que aquele momento não se repetisse. Fechou os olhos, suspirou, e lá estava ele, sorrindo-lhe ternamente, ela o abraçou com força “Não vá embora de novo, fica...” e sentiu-se colhida mais uma vez, foi tomara por tranquilidade e paz temporárias. Ele foi embora e ela acordou na cama, com dor.

domingo, 11 de novembro de 2012

A realidade fictícia

Se existe algo que mostra que ficção é ficção, uma representação e não um retrato fiel da realidade, esse algo é a relação de causa e consequência presente em qualquer obra fictícia. É importante notar, inclusive, que mesmo um "retrato fiel" da realidade depende do olhar do observador, seja do cinegrafista, seja do fotógrafo. Essa relação de causa e consequência, quando obedecida, impede que haja pontos sem nó em uma história.


Na ficção, ninguém tem uma dor gratuita, se há a informação de que alguém está com dor de cabeça, provavelmente é sinal de algo mais grave (um câncer no cérebro talvez) ou então a personagem está com problemas pessoais/psicológicos/emocionais e, para justificar sua indisposição, dirá que está apenas com dor de cabeça. Nenhuma doença é aleatória, se ela aparece, é porque algo sério ligado à doença vai surgir em algum momento da história.


Na vida real, quando uma mulher diz que está enjoada, logo vem aquele comentário “Ih, está grávida!”, eu tenho certeza que isso acontece por causa dos filmes e das novelas. Afinal, não é difícil passar mal do estômago, comer algo que não caiu bem, enjoar e botar tudo pra fora. No entanto, em uma novela, por exemplo, se uma personagem feminina enjoa, certamente ela está grávida. Isso não tem correspondência necessária com a realidade (eu vomitei nesta semana, mas não estou grávida!).


A ficção não é realidade, como se costuma dizer de uma obra com uma verossimilhança incrível com o nosso mundo. Nossas vidas são repletas de dores de cabeça decorrentes de stress, má alimentação ou outros fatores, sem que isso provoque, necessariamente, uma hecatombe em nossa história. A ficção tem um propósito – seja ele meramente de entretenimento e/ou conscientização político-social e/ou qualquer outra intenção doutrinadora – direcionado, influenciado e manipulado pelo olhar de quem criou. Portanto, muito cuidado antes de olhar para um texto, um livro, uma crônica, um filme e dizer “nossa, é exatamente a realidade”. Não, não é.