segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Véspera de Natal

Ah, chegou a véspera de Natal! Uma época de paz, amor, alegria... e gente reclamando que o Natal é uma época hipócrita, gente reclamando de gente reclamando que o natal é hipócrita, de pessoas fazendo ironias ao significado do natal e pessoas reclamando que as pessoas se esqueceram do verdadeiro significado do natal (sobre isso ouço desde que me conheço por gente, então... quando é que as pessoas se lembraram desse significado alguma vez?) e gente ignorando tudo isso e desejando um feliz natal a todos seja lá o que ele representa.


Acho que sempre falo disso em todos os Natais, deve ser porque as pessoas falam e reclamam sempre das mesmas coisas, eu não poderia fugir à regra neste caso. Não importa o que o Natal seja, se você é cristão, celebre o nascimento de Cristo, se não é, pode usar a data para festejar com família e amigos. E dar presentes sim! Por que não? Adoro dar presentes quando posso, e recebê-los, claro! Hipocrisia? Essa deve ser a hipocrisia mais gostosa do mundo.


Eu sei que existem pessoas passando fome e que festejamos com nossas gordas comilanças enquanto pessoas lutam para sobreviver nos quatro cantos mais pobres do mundo, mas assim não o é sempre? Festejar o Natal com toda a pompa e circunstância não é sinônimo de ignorar o resto do mundo, quem o faz no dia 25 de dezembro, faz também no ano inteiro. Que o tal espírito natalino te invada a alma e reflita da maneira que lhe aprouver, beba, coma, presenteie, abrace, beije, ame... e se ainda achar que isso tudo é hipocrisia, você ainda pode abraçar um mendigo ou as crianças pobres em vez de apenas postar fotos deles no Facebook, falar que o Natal é hipócrita e depois ir cear no aconchego do seu lar.


Feliz Natal a todos os meus queridos! Que ele venha repleto, acima de tudo, de AMOR.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

MT - Diário de Bordo: da teta da vaca ao bacon gigante

Hoje o diário de bordo será mais curto, nem sei bem o que está acontecendo com os protestos e bloqueios de estrada por aqui. Mas ao menos durante a noite passada liberaram por um período para deixar os carregamentos chegarem à cidade, os postos já têm gasolina outra vez e não faltará comida no mercado!


Depois de um sono agitado e não muito tranquilo, acabei acordando tarde, 10 horas da manhã o sol já estava de matar (está achando muito calor em São Paulo? Então nunca venha para o interior do Mato Grosso!), fui buscar a bicicleta da Vanessa lá na Agritex (a loja que vende os monstrinhos colheitadores e tratores) e andei por aí, enfiei-a na lama, entrei no meio do mato e fui atacada por formigas, mas consegui boas fotos de pássaros em pleno voo.


A Vanessa estava puro stress por conta de uma auditoria na loja, e eu só apareci por lá mais tarde depois que tudo acabou. Para desestressar, Diego foi nos buscar para tirar leite de vaca! E enfiamos aquela bike dentro do carro, não sei como entrou (e nem como tiramos depois!) e lá fomos para o sítio. Chegamos a tempo de ver o pôr do sol, incrivelmente belo e reconfortante. As vacas foram tiradas do pasto e então lá fui eu extrair o leite das pobres vaquinhas. Os donos do sítio são gente muito simples e acolhedora, e eu ainda saí com quatro litros de leite, que a Vanessa vai ferver pra mim e congelar para que eu possa levar. É obvio que não fui eu quem extraiu esses quatro litros, eu jogava mais lente fora do que dentro do balde (não, eu não tive coragem de tomar o leite recém-extraído), o leite que levei foi tirado com aquele o aparelho de sucção elétrico (tem nome pra isso??), foi bem divertido!


Já era de noite quando fui ver o maior bacon do mundo! Um porco de 300 kilos, com quase dois metros de comprimento e na altura da minha cintura. Medo! Entrei no chiqueiro com a Vanessa e mexi no bichinho... tentei não pensar que ele está sendo engordado para o abate. Quero acreditar que a carne que como é produzida no mercado! Tão simpático o “porquinho” gigante! Me diverti! Essas caipira de cidade grande...


Depois fizemos um parto para tirar a bicicleta do carro, ela entrou mais fácil do que saiu! A noite terminou em pizza na casa do Diego. E amanhã é dia de fazenda!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

MT - Diário de Bordo: Um dia com sapos, corujas e sem gasolina

Hoje acordei e fui rodar mais um pouco com a bicicleta da Vanessa enquanto ela trabalhava com seus tratores e colheitadeiras. Fiz comprinhas de mercado, farmácia e fotografei mais um pouco. Fui buscar empadas na Panificadora Central e consegui me perder pela primeira vez em 'Querê'! Já cansada e torrada pelo sol, fui à loja dos monstros desmatadores (mas que ampliam o agronegócio que sustenta a vida do povo dessa região). Lá chegando inteirei-me das notícias, haviam fechado mais estradas em Nova Xavantina, Água Boa e Barra do Garças. Nada chegava a ou saia de Querência, já havia começado o racionamento de combustível na cidade e, no final da tarde, não havia mais gasolina disponível.


A preocupação é que comece a faltar suprimentos nos mercados (acho que amanhã já vou me garantir com mais algumas comprinhas para a minha estadia por aqui!) e eu só espero que as estradas sejam liberadas antes do dia da minha partida. Teoricamente Água Boa abre amanhã, mas enquanto as negociações prosseguem para abertura de algumas estradas, outras fecham, porque a situação está bem complicada. Os produtores de gado têm que deixar suas terras e buscam lugar para deixar seu gado em cidades vizinhas fora do território que pertence aos índios Xavantes (os quais, segundo me informaram moradores da região, sequer estão interessados em permanecer na terra dos agricultores e pecuaristas porque eles não têm o que fazer com elas) ou então tentam vendê-los, mas dada a situação de emergência, o preço do gado despencou e os pequenos produtores estão caindo no total prejuízo e perdendo o sustento de suas famílias.


A situação fica cada vez mais complicada, os protestos devem continuar e se intensificar, enquanto o assunto é tratado apenas pela imprensa local e a nacional sequer dá atenção ao assunto. “Enquanto isso, a Dilma está em Paris” disse um trabalhador que já previu cancelamento de vendas na loja porque não se sabe se o caminhão com o carregamento necessário vai chegar a Querência. Pois é, essa é a situação aqui, uma realidade que eu não conhecia e estou observando quase de perto, mas longe dos conflitos entre a polícia e os produtores das terras em desocupação. Apesar disso tudo, a vida aqui está tranquila, ainda não falta nada essencial e o carro de nosso amigo Diego é flex (coisa rara por aqui)  enquanto acabaram com o estoque de gasolina, tivemos álcool para dar um bom role para longe da região urbana.


Fomos parar no meio das plantações de soja das fazendas vizinhas, , em total escuridão e sem nenhuma lanterna (culpa da Vanessa!), apenas com a luz do farol do carro e as telas de nossos celulares. saímos para procurar as estrelas, mas o céu estava nublado (acho que amanhã promete muita chuva), "para que estrelas se temos nós", diz Vanessa. Não tínhamos estrelas no céu, mas encontramos muitas corujas no meio do caminho! Entretanto dada a falta de luz, era preciso chegar perto para fotografa-las. Sem sucesso, pois todas fugiram, a única foto que consegui foi usando minha lente zoom, mas sem flash e sem uma boa condição de luz ou lente apropriada, dá para ver apenas alguma coisa que lembra uma coruja em meio à escuridão. Vou mexer em todas essas fotos apenas quando estiver de volta à selva de pedra.


De lá fomos para perto de um lago, no limite da cidade, ainda na completa escuridão, e nunca ouvi tanto sapo junto (e olha que eu achei que nunca ouviria mais sapos do que em Barra do Una, na Jureia, em São Paulo), eles não coachavam, eles assobiavam, martelavam, serravam, e juntos faziam um som único, ininterrupto e absurdamente alto. Tentei filmar, mas a imagem era um grande preto e o som virou um enorme zunido! Começou a chover, entramos no carro e voltamos para a cidade. Chegamos à praça do centro da cidade e lá começamos a conversar, a tecer comentários sobre a fonte de extremo mau gosto que tem o charmoso apelido de “cocozão”, sim ela parece um grande amontoado de bosta, e ali se encena a paixão de cristo, que bonito! É, demos umas boas risadas. Acho que amanha vou finalmente ordenhar uma vaquinha! Até o próximo diário de bordo.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

MT - Diário de Bordo: programa de índio

Eu comecei esse diário de bordo dentro do ônibus, no momento em que a questão de desocupação da terra indígena Marãiwatsédé, em Alto Boa Vista, no Mato Grosso, bloqueava as estradas da região. Eu estava passando por “Cascaiera”, como me informaram, quando tivemos que trocar de ônibus, atravessando a pé a estrada bloqueada por tratores e pneus em chamas para chegar ao outro ônibus que nos permitiria seguir viagem e terminei essa primeira parte agora, já sentada no conforto do quarto, prestes a dormir, baseando-me nas memórias do dia a partir do momento em que ônibus começou a andar e eu parei de escrever. Portanto, o tempo da enunciação e do enunciado ora coincidem, ora divergem.


Essa é uma daquelas viagens que você faz quando precisa deixar algo para trás, buscar algum tipo de interiorização e reencontrar alguma coisa perdida, talvez uma querida amiga que, em vez de morar, resolveu se esconder no meio do mato. Essa é a minha viagem para Querência, já passam de 24 horas de viagem e estou no terceiro ônibus que vai, finalmente, se nada mais se colocar entre a pequena cidade e este meio de transporte.


Acordei às 4 horas da manhã de ontem (10/12/12) para iniciar minha viagem. Fui de carona com o pai até a estação Anhangabaú da linha vermelha do metrô e de lá segui até a estação Tatuapé, onde peguei o ônibus versão pobre da Airport Service (R$ 4,20 ao invés de R$36 é uma economia e tanto, não?) e cheguei ao aeroporto de Guarulhos para então voar para Goiânia. O avião pousou em Ribeirão Preto e só depois de meia hora decolou novamente para chegar à capital de Goiás às 11 da manhã. Fui para a rodoviária, comprei passagem para Querência e então esperei até às 3 da tarde, hora em que sairia o ônibus. Seriam longas 16 horas de viagem pela frente.


Com tantas paradas que já perdi a conta, consegui algumas horas de sono com dois comprimidos de dramin, sendo que o primeiro foi por nausear com as legendas do filme que estava passando na televisão do busão (pra que legendas, e por que eu as estava lendo? O filme era dublado, afinal! E nem sei qual era o filme, passei tão mal que esqueci de continuar assistindo) e a outra foi proposital para forçar o sono. Teria sido mais fácil se não tivesse o som de uma TV desligada e um garoto não estivesse ouvindo “Eu quero Tchu, eu quero tchá” sem fone de ouvido em seu celular. Não aguentei e pedi gentilmente que o garoto colocasse fones de ouvido, a avó do menino não gostou, e eu disse-lhe que seria complicado viajar se eu tivesse que ligar as músicas do meu celular para competir com as dele. O som do celular foi desligado e não houve mais problemas. Quando havíamos sido avisados sobre um possível bloqueio de estrada na cidade de Ribeirão Cascalheira, próxima à região de Alto Boa Vista, essa mesma senhora havia se pronunciado indignada com o infeliz comentário: “Esses índio sempre causando problema! Atrapaiando a vida do trabaiadô... eles que vive às custa da gente e nóis que trabaia que se ferra... bando de folgado que não faz nada que que ganhá tudo de graça”. Aí eu entendi a situação.


Após longas horas de viagens e suas paradas, consegui dormir mais confortavelmente quando um sujeito que estava ao meu lado desceu em alguma das paradas, aí eu me estiquei e tomei conta dos dois bancos e o corredor. Já estava num sono gostoso quando o ônibus parou e o motorista nos avisou que teríamos que trocar de ônibus porque a estrada continuava bloqueada. Meio sonolenta, ainda não havia entendido onde estávamos, não lembrava do aviso sobre o possível bloqueio (o que dois dramins não fazem...) e perguntei onde estávamos. Uma mulher então me respondeu “é Cascaiera... bloquearam, vamos ter que descer... esses índio acha que pode tudo... se nóis mata eles somo preso, mas se eles mata a gente tudo bem.”


Mas foi quando desci que entendi que não eram os índios que bloqueavam a estrada, eles não usam tratores e pneus queimados para bloqueios, quem causava o transtorno eram proprietários rurais que protestavam contra o seu despejo. Eu não estava inteirada do que está acontecendo por aqui, e nem poderia, a mídia não dá muita atenção ao caso e só foi chegar hoje aos jornais e à televisão porque a situação começou a ficar bem crítica, mais estradas estão sendo bloqueadas (e eu espero que eu consiga voltar para Goiânia) e os protestos estão cada vez mais intensos. A Funai exige a terra indígena e pequenos proprietários rurais, que possuem escrituras de seus terrenos, estão sendo despejados sem qualquer indenização. E, ao que parece, os índios nem tem o que fazer com essas terras, eles não são agricultores. Pergunto-me por que apenas os pequenos produtores é que sofrem despejos. Índios querem as suas terras e o governo oferece soluções toscas que não satisfazem nenhum dos lados. O exército desce o cacete nos manifestantes, impede a aproximação da imprensa e isso é só a pontinha do iceberg.


Voltando à minha jornada, segui com minha mala, bolsa e mochila por entre os tratores até o ônibus que nos esperava do outro lado, bem mais velho e com bem menos lugares, não caberiam todos os passageiros ali. Depois de 20 minutos esperando lá dentro, alguns em pé e outros sentados, fomos avisados que aqueles que iriam para Querência seguiria em outro ônibus que havia acabado de chegar. Finalmente nesse "novo" ônibus, segui por mais uma hora e meia de viagem, dormindo, apenas acordando com alguns sacolejos e voltando a dormir logo em seguida.


Cheguei a Querência um tanto quebrada e a Vanessa já me esperava na rodoviária às 5:30 da manhã no horário local. Chovia muito e as ruas estavam cheias de lama, seria impossível caminhar com a minha mala pela rua. Esperamos um dos três táxis que existem na cidade e fomos enfim ao meu destino onde eu pudesse tomar banho e dormir decentemente.


A cidade é um ovinho, rodeada de fazendas, a área urbana é bem pequena e a internet é uma benção que não funciona nos dias de chuva. É uma delícia! Passei o dia fotografando, explorando tratores, colheitadeiras e afins, andando de bicicleta até, enfim, “cair na night” de Querência com a Vanessa e os amigos dela (gente boa!), que foi um X-salada em uma das poucas lanchonetes abertas. À noite tudo aqui é um breu, há pouca iluminação pública fora da avenida principal, o que nos presenteia com um belo céu estrelado. Pra não dizer que não acontece nada por aqui, foi só eu ir ao banheiro quando estávamos na lanchonete que um carro de polícia chegou à casa ao lado e de lá arrancou um cara a tapas e o levou preso. Cheguei a tempo de vê-lo sendo enfiado dentro da viatura.


Os próximos dias prometem ser repletos de passeios pacatos, colheita de fruta no pé, ordenha de vacas e visitas a picos onde as estrelas tomam conta de todo o visual. Toda a paz que eu preciso está ao meu redor e ela já começou a tomar conta de mim.


Informações sobre a desapropriação de Alto Boa Vista e conflitos na região aqui.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A desmedida do ego

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"As pessoas deveriam aprender a respeitar e a ouvir umas às outras", dizia mendigo enquanto tecia o segundo grilo de palha. Esse senso é tão comum que acaba passando batido, ninguém o leva a sério de fato. Costumamos falar bonito, mostrar nossa preocupação com os rumos da humanidade, do planeta e da natureza. Mas preocupo-me realmente com o rumo da humanidade, porque as pessoas compadecem-se dos grande problemas mundiais: a fome; a miséria humana; a degradação; o desrespeito. Sensibilizam-se com a arte, deixam-se tocar pela música e veem nas crianças o futuro e a esperança... mas se esquecem do princípio mais básico: usar os mesmos valores para tratar daquele que está mais próximo. A proximidade tornou-se tão banal que pouco se dá atenção a ela e aos laços que com ela se criam; e se nossas ações vão machucar, magoar e passar por cima de quem está ao nosso lado, o ego nos impede de perceber e tornamo-nos inconsequentes. Esquecemo-nos, enfim, de ouvirmos e respeitarmos uns aos outros.
Você, que é tão cheio de valores, reflita-os sobre você mesmo além do espelho que encara, e cuidado com o ego que lhe cresce em desmedida.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Brainstorm da desilusão

Sim, eu te amei. Dizem que Amor não acaba, é verdade, mas Amor não foi o que construímos, Amor era o que eu lhe tinha porque Amor é o que tenho a oferecer. Como já dizia Vinícius, antes de tudo ao meu Amor serei atento, e fui, e sou; atenta ao Amor que te dei e retribuiste com tuas mentiras e tua traição, Amor ferido, machucado, mas que ainda é meu, intenso e guardado; e a ti não sobrou mais nada que não a pena e o desprezo por aquilo revelastes ser.