terça-feira, 24 de novembro de 2015

Por que eu preciso de um dia da consciência negra?

O dia da consciência negra foi há quatro dias e, durante esse tempo, diante de tantos comentários ignorantes acerca desta data, fiquei refletindo sobre o porquê de eu precisar dela. 

Eu preciso de um dia da consciência negra porque eu sou branca, porque sempre me disseram que meu cabelo era bom e porque cresci acreditando que cabelo crespo era cabelo ruim. Porque eu usava termo "gente bonita", e ele englobava pessoas brancas, loiras, olhos azuis, verdes, de cabelo "bom", raramente, ou nunca, negros de cabelo "ruim", com aquela "cara de pobre". Eu preciso de um dia da consciência negra porque eu nunca me considerei racista, era apenas gosto pessoal, e isso não era preconceito. Eu preciso de um dia da consciência negra porque eu nunca havia percebido que a sociedade não nos ensinou a achar o negro bonito como nos ensinou a idolatrar o padrão europeu. Eu preciso de um dia da consciência negra porque nunca senti na minha pele a dor de ser julgada pela cor dela, porque nunca fui barrada em nenhum lugar por ser negra, e porque nunca me chamaram de macaca. Eu preciso de um dia da consciência negra porque, quando ele foi criado, eu achei desnecessário: "dia da consciência negra é algo preconceituoso, se queremos igualdade deveríamos ter um dia da consciência humana", mas eu bem que gostava do feriado e ignorava quem foi Zumbi dos Palmares. 

Eu preciso de um dia da consciência negra porque não fossem os movimentos sociais de emancipação e visibilidade do negro que deram origem a esta data, eu jamais enxergaria o quão racista eu fui, e o quanto todos nós precisamos entender que a igualdade social entre negros e brancos nunca existiu, e que "um dia da consciência humana" nunca iria expor o racismo que existe em todos nós. 

Precisamos todos de um dia da consciência negra. Precisam desta data principalmente aqueles que a repudiam. O Dia da Consciência Negra poderá, quem sabe, deixar de ser necessário no dia em que todos tiverem entendido e aceitado que ele sempre precisou existir.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Museu da Tristeza

Eu gostaria de ver toda a dor do mundo em um museu, porque ninguém sabe o que é felicidade sem antes conhecer a tristeza, e vice versa. Tristeza é necessária, mas ninguém gosta de ficar triste, ainda mais porque a tristeza normalmente vem sem hora marcada, inconveniente, carregada de dor. Se gostássemos de tristeza, afinal, ficaríamos felizes com ela.

Se ela estivesse apenas em um museu, exposta em todas as suas formas, cores e odores, poderíamos visitá-la e sentí-la na hora em que bem entendêssemos e assim conhecê-la ou lembrá-la. Quando a felicidade já começasse a perder o seu significado, bastaria entrar no museu para sentir a tristeza e perceber como é bom ser feliz. 

E em cada corredor, carregado de mágoa e de dor, lembraríamos de tudo o que nos causa doenças e cânceres, as lágrimas nos escorreriam pelo rosto, o peito ficaria apertado e, ao sairmos de lá de dentro, tudo ficaria para trás, e sentiríamos o alívio e a renovação de uma vida repleta de novas alegrias. E neste museu haveria a sala do que jamais poderia ser vivido ou sentido outra vez, apenas para nos lembrar do que não pode acontecer novamente. Nela estaria toda a pobreza e miséria humana, física e de espírito, todo o ódio desmedido, fossilizados para todo o sempre. 

Um belo museu, para todo tipo de dor, de tristeza, de angústia e de sofrimento. Meu museu, seu museu, nosso museu. O museu de todos nós. E como ele não ainda existe, não sejamos então milhões de museus, acumulando tristeza e sofrimento. Que não cristalizemos a tristeza, que não fossilizemos dentro de nós a miséria humana, tampouco o ódio. Que a tristeza, necessária, possa sempre ser transmutada em mim, nos meus, e em toda alma sofredora. Que cada sofrimento vá para fora de nós, para dentro do nosso futuro Museu da Tristeza.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Ao meu mais improvável amigo

De todos os meus amigos, tu és o mais improvável e inusitado. Improvável, e não impossível, és meu amigo de tão longe e ao mesmo tempo mais perto do que eu poderia um dia imaginar. De poucas palavras, as mais belas palavras eu já conhecia antes mesmo de te encontrar. E quando a vida é dura e o coração aperta, nestas palavras, cantadas, escritas ou faladas, sei que posso me apoiar, ainda que eu evite tanto incomodar; receio de estragar tão rara relação de confiança, amizade e fraternidade que, ao longo dos anos, construímos sem planejar, baseada na mais inesperada e imediata empatia.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Sobre a tolerância e o respeito

Sempre que leio textos sobre tolerância, como acabei de fazer com um do Flávio Gikovate no Facebook, parece-me que sempre fica faltando deixar claro o que é exatamente tolerância e o que é respeito. Algumas vezes toleramos e respeitamos, muitas vezes respeitamos sem tolerar, muitas vezes toleramos sem respeitar e outras vezes não toleramos e nem respeitamos. Prega-se muito sobre ser tolerante, porque a intolerância é um mal a ser combatido com todas as forças. Não é bem assim, não dá para tudo tolerar. E se você diz “mas, peraí, ser tolerante não é ser idiota!”, já fica muito claro que, se você não tolera uma condição ou pessoa que te põe em uma situação ruim, você não é de todo tolerante. E nem deve ser.

Há uma linha tênue que separa a tolerância do respeito, você tolera aquele seu chefe que te humilha, porque você não pode perder o emprego; apenas teme a demissão, mas não tem o mínimo respeito por ele quando o xinga pelas costas. Se isso está moralmente correto ou não, entra aí a questão cristã da prática contínua do perdão, mas isso entra em outra discussão. Da mesma forma, podemos não tolerar as atitudes de uma pessoa e decidir nos afastar dela para não entrar em atrito e, dessa forma, não perder o respeito, tanto à pessoa quando a si mesmo.

Podemos não tolerar muitas coisas. O criminoso, por exemplo. Suas atitudes devem ser repreendidas, respondidas e pagas perante a justiça, mas sem nunca deixar de respeitar sua condição de ser humano, ainda que ele não tenha tido qualquer tipo de respeito pelas suas vítimas. Do contrário, seria apenas vingança por vingança sem visar qualquer melhoria, seja para o indivíduo, seja para a sociedade, afinal, não queremos de volta para a sociedade um indivíduo ainda pior. Nesse caso, há (ou deveria haver) o respeito, mas não a tolerância. Respeito não talvez à sua pessoa, mas às leis e à condição de ser humano em que todos nós estamos, sem que seja tolerada qualquer ação criminosa.

E existem muitas coisas e atitudes que não devem ser toleradas e tampouco respeitadas: o racismo, a homofobia, o machismo, a discriminação de qualquer espécie, o ódio deliberado, a exclusão e a marginalização social. Sem sombra de dúvidas, a opção sexual (que compete única e exclusivamente a cada indivíduo), as diferenças sociais, raciais e de crenças merecem e devem sempre ser respeitadas, e não apenas toleradas na sociedade. 

Entre o respeito e a tolerância está o bom senso, e este, acima desses dois, parece que é o que mais falta entre nós.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Fotografia: acesso e banalização

Antes da fotografia, existia a pintura, a qual se viu indignada com a nova forma de retrato. Antigamente, as câmeras usavam filmes, não sensores digitais. Antigamente levávamos dias para ver uma foto revelada. Depois da revelação feita em uma hora, a ansiedade diminuía, e com as polaróides, nossa! Foto instantânea. Era o máximo do máximo. Com as câmeras digitais as imagens passaram a ser imediatas, com os celulares, passaram a ser online. Evolução acontece em qualquer área humana e a sua negação também. Com a imagem não é diferente.

Não dá para negar: O fato de não se ter que pagar pelo filme ou pela revelação popularizou a fotografia. Cada tempo tem a sua marca, nosso tempo vive as suas; e vida online expressa em fotografias, é uma delas. Se as fotos publicadas são enganosas, mentirosas para exibir uma falsa felicidade, muitos dos antigos álbuns de família também foram montados com base nas aparências, apenas não eram online. As selfies não são uma novidade, é um novo nome para algo que sempre existiu, só não tinha tantas facilidades de recurso, tais como celulares com câmera conectados à internet, câmeras frontais, pau-de-selfie e redes sociais.

Não adianta reclamar da tecnologia ou esbravejar o seu "mau uso". Isso sempre aconteceu. O celular não substituiu a câmera porque quem fotografa pela arte continuará fazendo. E não dá para negar que a imagem dos celulares de hoje em dia são melhores que as das antigas câmeras compactas de rebobinamento manual, a qual muitos dos que atualmente reclamam da "banalização da fotografia" usavam, e faziam fotos péssimas, não por culpa da câmera. 

O problema não é a câmera frontal, o pau de selfie, os celulares, ou a internet. Cada um sabe (ou não) como e quando usar esses recursos, o problema é justamente não saber lidar com isso. Não dá pra condenar o avanço na fotografia, ainda que, em certos aspectos, tenha sido "banalizada", porque, graças a esses avanços e popularização, qualquer um - qualquer um mesmo - de toda classe social, pode registrar seus eventos, nascimentos de filhos, festas de aniversário e até mesmo a sua vida na pobreza (por que não?); se essa realidade existe, deve ser mostrada. Se ela te incomoda, o problema é seu. 

Hoje a vida é online, característica de nosso tempo. Apenas temos que aprender a lidar com isso e a aceitar as mudanças que ocorrem ao longo da história.

Escrito em 10 de maio de 2015.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Mas é só um elogio!

Não, não é. Não na sociedade em que vivemos. 

"Ah, vá! Nada demais apenas abordar com educação para dar bom dia e dizer que é bonita." 

E aí eu me pergunto, com que intenção? Por que você precisa parar uma mulher na rua, apenas porque achou-a bonita/atraente, e dizer isso a ela? 

"Para de ser feminazi, eu hein! É só educação, é só um bom dia, e quem não gosta de receber elogios?"

Pode ser, um dia quem sabe talvez seja assim. Mas não hoje. Por quê? Bem, no dia em que eu ver um homem abordando outro homem na rua apenas para dar bom dia, ou um homem aceitar ser elogiado por outro homem sem que fique indignado com isso, eu vou acreditar que é pura educação. Mas esse dia ainda não chegou, está longe. 

"Mas eu não sou gay, caraio! Não viaja!"

E nem ela está à sua disposição apenas porque lhe agradou aos olhos. 

"Mas eu apenas elogiei, ela não é obrigada a fazer nada! E eu nem quero nada, é só um elogio."

De novo, com que intenção? 

"Apenas elogiar." 

Você aceitaria elogio vindo de qualquer pessoa? 

"De homem não, já disse que não sou gay." 

Mas você também não é obrigado a fazer nem aceitar nada em relação ao elogio do outro homem, e se você supostamente está no seu direito de "elogiar" a mulher que quiser, outro homem, gay ou não, também estaria no direito de elogiar quem quiser. 

"Quer dizer que agora não pode mais cantar, elogiar mulher nenhuma que vai ser considerado assédio?"

Sério? Na rua? Na RUA? Fora de contexto? Você não sabe mesmo como paquerar alguém? Você realmente quer paquerar alguém na rua, perturbar alguém que você não conhece, que está provavelmente com pressa, indo ou voltando do trabalho, pra faculdade... para dar uma cantada? Claro, porque se passa um cara num carro buzinando para mim, me dizendo o quanto sou linda ou gostosa, vou sair correndo atrás do carro para dizer que quero conversar e dar meu telefone (só que não, antes que não entendam a ironia). Sério MESMO que você quer continuar com esse questionamento infeliz? 

"Mas..."

Não tem mas, socialmente acha-se normal elogiar ou falar qualquer asneira para mulheres nas ruas, porque afinal homem que é homem faz isso. Ocorre que, se existem mulheres que gostam, existem inúmeras mulheres que não gostam. Não fique tentando a sorte para encontrar as mulheres do primeiro caso, porque você desrespeitará MUITAS do segundo. Então simplesmente PARE de abordar e incomodar mulheres nas ruas, seja com a melhor ou a pior das intenções.  Quando bom dias e elogios forem realmente aceitos como educação em todas as situações, aí a gente pode começar a conversar. Por enquanto, chega de fiu-fiu. Simples assim.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

A bolha cor-de-rosa

Certa vez li por aí sobre a bolha ideológica que o Facebook cria para seus usuários, limitando as publicações  ao mostrar em suas linhas do tempo apenas conteúdo referente às suas próprias opiniões, dificultando assim a interação e troca de informações sob diferentes pontos de vista.  E eu passei a  a criar a minha própria bolha. Intolerância? Não me importo, de fato, que assim me julguem. Desde que a rede social começou a fazer que as pessoas se esquecessem que as regras do convívio social deveriam valer também  no mundo virtual e que, assim como antes de falar é preciso pensar, antes de escrever, postar ou compartilhar qualquer coisa, é também necessário ao menos um pouco de reflexão.

Para evitar então dor de estômago pelo ódio compartilhado na rede ou pela propagação de opiniões ignorantes - seja pela falta do hábito da leitura, da análise e da reflexão fora do senso comum, seja pela preguiça de pensar - resolvi ajudar o Facebook a construir a minha bolha cor-de-rosa ideológica, deixando de seguir e/ou restringindo os que compartilham de senso comum carregado de ignorância, preconceito e ódio, ainda que não tenham consciência disso. Assim vejo apenas postagens e comentários humanos, ou divertidos, ou úteis, ou tudo isso ao mesmo tempo, preservando o meu estômago e a minha saúde mental. 

Dessa forma, quando escrevo minhas opiniões ou compartilho ideias com as quais concordo, ou repudio, ou fico indignada, não é, de forma alguma, para convencer aqueles que não concordam comigo. É simplesmente para mostrar aos que estão na mesma sintonia que eles não estão sozinhos. Portanto, quando paro de seguir ou restrinjo o acesso de alguém às minhas postagens, não é nada pessoal, preferi apenas respeitar a pessoa e o seu direito de falar a merda que quiser, optando por não mais acompanhá-las, seja em suas postagens ou em comentários indesejados nas minhas. Que os outros criem a sua própria bolha de ódio, eu não quero fazer parte dela. 

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Procura-se Humanidade

Procura-se Humanidade, por trás das máscaras da rede, por trás do filtro da rede. Humanidade, por onde andas? Ódio, o que fizeste com ela? Sufocou-a? Trucidou-a? Tenho a procurado onde só te encontro, Ódio. Humanidade, apareça! Prove-se mais forte do que ele. Eu sei que atualmente ele tem ganhado força, tão fácil é o caminho por ele escoado. Humanidade, eu sei que estás escondida em muitos corações. Bata, grite, exploda para fora, expanda-se! Tire o Ódio de teu caminho. Ah, Ódio, tão infeliz tu és sem saber. Tão doente, tão intenso e tão frágil; tua explosão é dor, explosão de Humanidade é amor. Humanidade... se a vir, chame-na, ela é calorosa e está pronta para entrar em qualquer coração. Abra o seu!

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Eu sempre quis ser eu

Eu sempre quis ser eu. Eu com o que tenho, eu com algo mais. Se alguém está viajando e eu sinto inveja, quero ser eu em outra viagem, jamais ser quem está viajando, naquela viagem. Se eu quero muito dinheiro, queria ser eu com um belo montante, e não ser aquele milionário, com aquele dinheiro, naquela vida. Outras pessoas têm outros amores, outros desejos, outras vontades, outros problemas. Eu quero o que é meu, o que desejo, tudo o que me faz ser eu.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Três palavras. Ou mais ou menos isso.

"Ele me disse eu te amo", ela me contou. E isso a deixara perturbada. "Eu nunca acredito quando alguém diz que me ama. Fico pensando que a pessoa estava bêbada, ou que falou da boca pra fora". Sobre o que ela respondeu a essa declaração, ela me disse: "respondi que também o amava, mas foi estranho, eu não gosto de dizer". Indaguei se ela não o amava, e ela dissera que sim, que o amava, mas que não queria dizer, porque era estranho, "nunca acredito que é sincero, e não me sinto à vontade para falar".

Eu te amo. Três palavras tão básicas e tão fortes. Quantas pessoas não se arrependem por nunca terem dito?  Acho que ultimamente o amor tem assustado um pouco muitas pessoas, talvez por medo de sofrimento, ou pela dúvida, pela incerteza, ou por algum bloqueio, ou por não gostar dele(a), ou porque é muito mais fácil pegar sem se envolver, ainda que isso sempre acaba não funcionando muito bem para ao menos um dos dois lados, e muitas vezes alguém acaba saindo machucado da história. É como uma vez disse uma amiga "Se você não quer se envolver, relacione-se com uma planta".

E dizer eu te amo se tornou tanto banal quanto difícil, e acabo de descobrir que ouvir também; espanta-me saber que há quem não sinta prazer num sonoro eu te amo. É preciso muita maturidade emocional para reconhecer a verdadeira essência do amor por trás do eu te amo e também para encontrá-la mesmo quando nunca é dito, seja aos pais, aos filhos, aos amigos, aos namorados, às namoradas, aos maridos ou às esposas. Eu te amo. São apenas três palavras, ou mais ou menos isso.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Todo o ódio aos livros de colorir


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Haters gonna hate. A moda do livro de colorir, o sumiço do lápis de cor das prateleiras das lojas e fotos no instagram de páginas pintadas. Toda essa febre foi o suficiente para ativar o ódio dos haters de modinhas que aparecem na internet.

"Eu sou um artista, sempre pintei e desenhei desde criança, agora vem esses idiotas que sempre acharam que pintar é coisa de criança achar que são legais e descolados com esses livros idiotas." Ou então "compra livro e lápis de cor só para ficar se exibindo no instagram." E os mais exaltados "parece um bando de retardado! Não aguento mais ver flores!" Teve uma que até se achou engraçada comprando um livro só para fazer um suposto video tutorial de como pintar um livro, rabiscando as páginas com canetinha e mostrando que não aguenta mais essa modinha.

Gente, por que tanto ódio? Ainda não entendi essa implicância com febres de atividades temporárias, essa raiva despertada pelas fotos postadas no instagram e no facebook. E daí se é moda? E daí se pessoas que nunca ligaram para lápis de cor estão agora pintando? Tudo isso é porque você já pintava antes e agora está incomodado com a "concorrência"? Tá triste porque não tem mais um hobby exclusivo? Juro que não entendo essa necessidade de se diferenciar, ser único e fazer algo que ninguém faz. Tá insatisfeito? Muda de atividade, explore novas atividades e encare novos desafios e deixe em paz quem está feliz pintando florestas, flores e mandalas. Se você sempre pintou, tenho certeza que não serão iniciantes com lápis de cor e livros de colorir que vão te "desbancar".

O que eu vejo é uma febre saudável, com seus excessos ou não, com gente querendo apenas aparecer ou não, eu vejo gente feliz entrando numa onda colorida. E não precisa o mundo de mais cor? Um dia eu estava pintando meu livro numa sala de espera, e uma senhora me perguntou sobre ele, onde comprei e disse que ela queria pintar também. Outro dia a reencontrei e ela me mostrou fotos dos livros dela e das amigas dela, com quem ela estava pintando. Amigas que se reuniam para pintar juntas e conversar. Quer coisa melhor do que uma atividade descontraída em grupo? Eu vejo mães pintando junto com seus filhos, eu vejo pessoas duras se entregado ao prazer de ser criança. Eu vejo cor, eu vejo paz, eu vejo amor. Faça então um esforço: pare de odiar.

Que essa febre dure o tempo que durar, e, quando ela acabar, que tenha deixado no mundo pessoas com um pouco cor na vida. É disso, afinal, que o mundo precisa.

terça-feira, 19 de maio de 2015

Diálogos do Trem - Relacionamentos

- Eu não vou ficar pedindo carinho pra você não.
- [...]
- Grosso, eu?
- [...]
- Ah tá, tá bom. Em que momento eu fui grosso?
- [...]
- Ah, tá. Claro.

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- É, no Natal eu preciso estar em Minas, fia.
- [...]
- Da um jeito na tua vidinha que eu preciso dar um jeito na minha, ou vou acabar matando aquele desgraçado.
- [...]
- Eu to ruim, to péssima... Falta pouco pra eu matar aquele desgraçado.
- [...]
- Eu já peguei quatro anos fia, mais dez anos vai ser fichinha, não aguento mais aquele coisa ruim.

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- Letícia, eu quero passar informações de conhecimento pra você... Se você não quer tudo bem!
- [...]
- Ah, mas Letícia, só porque eu tenho mulher eu não posso ir pra sua casa?
- [...]
- Letícia... Não, Letícia, me escuta, me escuta! Quando você me conheceu... Deixa eu falar, quando você me conheceu você me conheceu casado.
- [...]
- Você me conheceu casado, Letícia, eu não era solteiro, eu não sou solteiro, eu não tenho culpa se você não pode ir onde eu estou, porra, se toca, cara!
-[...]
- Não, Letícia, eu não desliguei na sua cara, eu tava no meu quarto colocando meu filho pra dormir... Contando uma historia pra ele.
- [...]
- Não, Lê, eu não desliguei na sua cara! A ligação caiu! Sua filha da puta! Vou dar uma porrada na sua cara! Se eu tivesse aí você tomava logo umas duas bolachas pra você aprender.
- [...]
- Não, Letícia, não! Poxa, me ouve... foi até minha mulher que foi me avisar que o telefone tava tocando, a ligação caiu mesmo...
- [...]
- Mas que diacho de amor é esse que você diz que sente por mim? Que amor é esse você não é nem capaz de me entender?
- [...]
- Você não é a outra Letícia, você sabe que não é, você nunca foi nem nunca vai ser pra mim a outra, essa palavra não existe no meu vocabulário, você sabe disso, Lê, você sabe que eu te amo!
- [...]
- Eu amo você, você sabe disso, eu amo a nossa princesinha, demais....
- [...]
- É claro que eu vou no aniversário dela, Letícia...
- [...]
- Não Letícia, não... E mulher não nasceu para ser compreendida, nasceu para ser amada, e você sabe que te amo, e ainda assim eu compreendo você, eu te entendo, e te respeito.
- [...]
- Não, Lê, eu não tenho outra, você sabe que não, é apenas o meu jeito... Não não, não é só quando eu quero que a gente se fala, é só quando dá tempo, olha, não estamos falando agora?
- [...]
- Não, Letícia, não... Não! Olha, você sabe disso... Letícia, Letícia! ....

... Desligou... Puta que pariu, plena segunda feira e essa mulher faz isso...

[Tenta ligar de volta inúmeras vezes, e então ela finalmente atende]

- Alô, oi, oi, tá me ouvindo? Tá mais calma agora?
- [...]
- Eu sei que você não está nervosa, é, eu sei, você estava só desabafando, é, eu sei, eu entendo...

[E assim, descendo do trem, continua...]

segunda-feira, 23 de março de 2015

E o presente?

E o medo?
Existe.
E a insegurança?
Também.
E o incerto?
É o futuro.
E o certo?
Não sei.
E o desejo?
Presente.
E a saudade?
Também.
E o futuro?
Incerto.
E os planos?
Futuros.
E o presente?
Em curso.

terça-feira, 17 de março de 2015

Inegavelmente Bentinho

Ouve um dia em que acreditei que já não tinha mais a imaginação de Bentinho. Pobre de mim, que não percebi que a negação de um mal não o impede de existir ou acontecer. Uma leve brisa sempre deu a luz a incontáveis potrinhos. Negá-los não os fará sumir, nem deixarem de existir. Aprender a controlá-los: esta é a chave para o auto conhecimento e paz interior. Tenho um longo caminho pela frente...

segunda-feira, 16 de março de 2015

Amor...

Amor... amor é o que se sente, mesmo que sem palavras. Não há definição, nem medidor de intensidade, não existe hora pra surgir nem momento pra crescer. Amor é fraterno, é romântico, é o que se manifesta em risos, abraços, beijos, saudades e lágrimas. É sofrer mesmo sem querer, é rir, é chorar. Amor... amor é tudo aquilo que eu sinto quando penso em você.

quinta-feira, 12 de março de 2015

A volta da pantera

Fazia tempo que eu não a via. Passou correndo na minha frente com a Lyra, gata de meus pais, na boca. A pantera negra havia saído de controle, mas, de alguma forma, eu ainda tinha poder sobre ela. Arranquei a gata, ainda viva e com ferimentos leves, de suas presas e a pantera não reagiu, apenas me olhou como se estivesse com rancor. Mandei-a para a casa de madeira que a abrigava e, quando dei-lhe as costas, não pude evitar que matasse uma gata branca e comesse o rabo do Bilbo, o gato adotado por meu amigo. Temi por Frida, a minha gatinha branca, nas ela estava a salvo se esfregando em minhas pernas. A gata devorada era uma gata de rua. A pantera sentia-se triste, mas ainda assim não podia sair comendo gatos por aí. Acariciei-lhe a nuca e acordei logo em seguida.

segunda-feira, 9 de março de 2015

O brilho eterno de uma mente sem lembranças

Eu já quis esquecer, exatamente como acontece no filme. Esquecer parece tornar tudo mais fácil: eliminar a dor e acabar de uma vez com o desconforto. Já desejei me livrar de lembranças ruins ou da dor de um coração partido mais de uma vez. Pesquisadores holandeses já descobriram um meio de apagar memórias especificas, traumáticas - através do que se pode grosseiramente chamar de eletrochoque - para auxiliar principalmente em tratamentos de depressão.

Fico imaginando se a coisa atinge a escala do inimaginável e alcança o nosso propósito de esquecer o que nos causa sofrimento. Ao sentirmos uma dor emocional muito forte, bastaria apagar a(s) lembrança(s) que a(s) causa(m). Haveria gente apagando vidas inteiras: a existência de alguém que morreu, anos de relacionamentos amorosos culminados em decepção ou frustração de um coração partido, acidentes traumáticos, experiências negativas que resultaram, de alguma forma, em algum aprendizado. E, de repente, os mesmos erros estariam sendo repetidos um atrás do outro por pessoas repletas de buracos existenciais. Sem a referência da dor, já nem saberíamos o que é felicidade.

Mas confesso, já quis mesmo esquecer. Apagar a memória por raiva ou apenas por não suportar o sofrimento que tira o sono, a fome, apaga as cores, elimina os aromas e os sabores. Ter memória seletiva seria útil em determinadas fases da vida. Que a felicidade não é uma constante e que ela é um meio e não o destino, já sabemos, duro mesmo é a contradição de desejar esquecer nossos sonhos mais doces, as memórias mais lindas e os momentos mais felizes em nome de apagar a tristeza que essas lembranças atualmente nos causa. Talvez seja apenas um paradoxo temporal, ou talvez precisemos delas para perceber que estamos vivos e que somos capazes de rir e de chorar com a mesma emoção e intensidade.

sexta-feira, 6 de março de 2015

Teatro

Uso máscaras, maquiagens e figurinos incorporando-os ao meu dia a dia e interpretando com maestria o meu eu social. Monto-me pela manhã, represento uma personagem no decorrer das horas e sou capaz de convencer que ela sou eu; firme, inteira e forte. Mas é quando me desmonto sozinha, no silêncio da noite, que o rímel dos olhos de princesa se transforma na maquiagem do Alice Cooper.

A pantera

Eu estava deitada na rede próxima ao rio do quintal quando apareceu uma pantera negra. Ela tentava me atacar, mas, depois de dominá-la, tornei-me sua dona, embora ela pensasse o contrário. A única coisa chata é ter que trancá-la num quarto durante a minha ausência para que ela não comesse os gatos e o cachorro. Eu tentei mandá-la embora, deixá-la livre, mas a casa era grande, rústica e confortável, com uma cachoeira no quintal que caía sobre o rio que se estendia por longos metros além da vista, e a pantera passava horas estirada ali na margem sob o sol. Decidiu, portanto, que era mais cômodo instalar-se em minha humilde residência do que viver seu instinto caçador (ainda que ela resolvesse praticá-lo com os bichos da casa). E foi assim que ela entrou em minha vida.

Dispo-me

Dispo-me de minhas convicções, das minhas crenças, do meu orgulho, da minha dor e dos meus medos. Ignoro meus questionamentos ainda fervilhantes e aceito o desconhecido. Dispo-me.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Jogo da Vida

A crueldade de um jogo que não aprendi a jogar: quanto mais se dá, maiores as chances de perder aquilo que se quer ganhar.

segunda-feira, 2 de março de 2015

Alegria da menina

Menina linda, que palavras não sabe falar, mas oferece a melhor forma de conversar. Um suspiro, um tété, uma lágrima, um dádá. Uma fungada, imitada. Dadá tétété risada e, enfim, um sorriso a se esboçar.

domingo, 1 de março de 2015

Na prosa poesia

Eu sou prosa, você era a minha poesia. Você, pura poesia, intensa, melancólica, cheia de vida, de signos, profunda, verdadeiramente humana. Eu, prosa, direta, objetiva, linear, apaixonada, profunda e igualmente humana. Nossas vidas transformaram-se então em uma prosa poética. Eu, que sempre li prosa, apaixonei-me pela poesia, a sua poesia, a poesia que invadiu meu coração e todos os cantos da minha vida. Escrevemos juntos a nossa história, a nossa prosa e a nossa poesia em um livro que meu coração se recusa a fechar. Foi vontade, era vontade, à vontade, escondida, acolhida. Nasceu prosa, foi poesia, poeta, poetiza, morreu melodia.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Recomeço

Recomeço. Iminente. Angustiante. Recomeço. Ao tormento. Às letras. Ao cansaço. À demagogia. Recomeço. Acadêmico. Voluntário. Involuntário. Recomeço. Ao caos. Ao desespero. Ao que eu era. Ontem. E hoje. Não sou mais. Recomeço. Ao mais. Do mesmo. Sem tesão. Sem paixão.
A escolha.
Foi.
Minha.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Deságua

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Lá fora chove aqui dentro. Inunda, afoga, transborda pelos olhos. A vida, deságua, o cansaço, deságua, o medo, deságua, a dor, deságua, o aperto, deságua, deságua, a mágoa.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Das grandes coisas

Recentemente li uma crônica que falava sobre pequenas coisas da vida, de como estamos repletos delas; nós nos afogamos nelas. São as pequenas coisas da vida que nos consomem, que nos apequenam. Aprendemos a vida toda que temos que valorizar as pequenas coisas. A verdade é que precisamos mesmo é das grandes coisas.


Nosso cotidiano cheio de problemas, por maiores que estes sejam e nos consumam, é que é pequeno. Aquele pôr do sol, que nos maravilha os olhos, é grande. Um beijo é grande. Um abraço é grande. Um filme é grande. Um livro é grande. Momentos de prazer são grandes. Tudo que nos faz realmente feliz ou, de alguma forma, nos transmite paz, é realmente enorme. São das grandes coisas da vida que precisamos, porque são elas que nos engrandecem. São pequenos ou grandes, breves ou intensos prazeres, mas sempre grandes coisas.


As pequenas coisas têm tomado tanto espaço em nossas vidas que falta tempo para as grandes, amedrontadas, encurraladas, acuadas grandes coisas que fogem assustadas, escapam por entre os dedos. Atualmente tenho vivido demais as  muitas pequenas coisas que me engolem todos os dias e que às vezes ofuscam o brilho das grandes. Mas, dia a dia, vou buscando cada vez mais as grandes coisas ao longo do caminho da vida e assim amenizar o enorme peso das inevitáveis pequenas.


Da desimportância das pequenas coisas: http://vida-estilo.estadao.com.br/blogs/renato-essenfelder/da-desimportancia-das-pequenas-coisas-da-vida/

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Crônica do amor à vida

- Eu sou totalmente contra o aborto, é um crime contra a vida! A mulher que aborta é uma assassina.
- Mas uma adolescente não está preparada para ser mãe, é o corpo dela, é escolha dela. Ademais, muitas vezes a criança vai ser colocada numa situação degradante de vida e...
- Pensasse nisso antes! Tem idade pra fazer filho então tem idade pra criar também.
- Mas, e aquelas mães com tantos filhos sem condições de criar e...
- Não sei porque pobre faz tanto filho se não tem como criar, depois fica pedindo bolsa esmola, esse bando de vagabundo.
- Se essas familias fossem orientadas, tivessem a mesma igualdade de oportunidades, ou tivesse a chance de acesso a um aborto seguro...
- Aborto é assassinato! Atentado contra a vida... Um crime perante Deus e à lei!

[Maria teve oito filhos, alguns foram frutos de estupro do próprio marido. Ela sofria todo tipo de violência em casa. Seus filhos cresceram vendo o pai batendo nela, e neles. João, o filho do meio, se perdeu no meio das drogas o qual cresceu, um dia, meteu-se num assalto para comprá-las]

NOTICIA  NA TV INTERROMPE A CONVERSA

"E hoje mais um criminoso foi pego por justiceiros, João da Silva assaltou um casal, levando carteiras e celulares. Foi reconhecido alguns dias depois e sofreu as consequências do seu crime: acorrentado a um poste, apanhou até perder os sentidos"

VOLTA A CONVERSA

- Nossa, que horror!
- Pra mim é pouco, bandido bom é bandido morto! Tinha que matar esse filho da puta!

Ah, o amor cristão à vida...

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

A minha dor

Aceita minha dor, desproporcional ou não, é verdadeira, é sentida com todo o meu coração. Aceita minhas lágrimas, elas lavam a minha alma e me permitem seguir em frente. Se não puderes dizer nada, apenas enxuga-as, e se não puder enxugá-las, apenas vá e deixa que sequem sozinhas.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Melancolia

Melancolia... Não sei bem o que é, não em palavras. Se fosse possível, eu colocaria neste exato momento um tradutor conectado direto do meu coração com um reprodutor de texto, e aí então teríamos uma bela definição de melancolia, ao menos da minha. Medo, medo da perda, sensação de impotência, ausência de controle das situações; eis algumas palavras que me surgem quando reflito o sentimento indescritível.  Ah, melancolia, minha companheira da noite... Brindemos a esse nosso momento com as muitas lágrimas que você me traz.