terça-feira, 6 de outubro de 2015

Museu da Tristeza

Eu gostaria de ver toda a dor do mundo em um museu, porque ninguém sabe o que é felicidade sem antes conhecer a tristeza, e vice versa. Tristeza é necessária, mas ninguém gosta de ficar triste, ainda mais porque a tristeza normalmente vem sem hora marcada, inconveniente, carregada de dor. Se gostássemos de tristeza, afinal, ficaríamos felizes com ela.

Se ela estivesse apenas em um museu, exposta em todas as suas formas, cores e odores, poderíamos visitá-la e sentí-la na hora em que bem entendêssemos e assim conhecê-la ou lembrá-la. Quando a felicidade já começasse a perder o seu significado, bastaria entrar no museu para sentir a tristeza e perceber como é bom ser feliz. 

E em cada corredor, carregado de mágoa e de dor, lembraríamos de tudo o que nos causa doenças e cânceres, as lágrimas nos escorreriam pelo rosto, o peito ficaria apertado e, ao sairmos de lá de dentro, tudo ficaria para trás, e sentiríamos o alívio e a renovação de uma vida repleta de novas alegrias. E neste museu haveria a sala do que jamais poderia ser vivido ou sentido outra vez, apenas para nos lembrar do que não pode acontecer novamente. Nela estaria toda a pobreza e miséria humana, física e de espírito, todo o ódio desmedido, fossilizados para todo o sempre. 

Um belo museu, para todo tipo de dor, de tristeza, de angústia e de sofrimento. Meu museu, seu museu, nosso museu. O museu de todos nós. E como ele não ainda existe, não sejamos então milhões de museus, acumulando tristeza e sofrimento. Que não cristalizemos a tristeza, que não fossilizemos dentro de nós a miséria humana, tampouco o ódio. Que a tristeza, necessária, possa sempre ser transmutada em mim, nos meus, e em toda alma sofredora. Que cada sofrimento vá para fora de nós, para dentro do nosso futuro Museu da Tristeza.