quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Do coração para o estômago

Uma palavra virada
e lá se vira o estômago
Uma lágrima rolada
e lá se vai o sono

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

O clichê sobre o mundo virtual

Há muito não vivemos apenas no mundo físico, não há como negar. Já é clichê lermos, ouvirmos ou fazermos diversas reflexões e discursos para discutir, reclamar, defender ou ponderar sobre a nossa vida virtual. Esse texto é apenas mais um deles. 

Algumas pessoas não ligam, vivem no mundo virtual e não estão nem aí, outras vivem apenas no virtual e nem se dão conta. Outras pessoas ponderam, tentam achar o equilíbrio, algumas rechaçam totalmente e abandonam de vez, ou sequer entram. Mas o ponto mais intrigante na revolta contra a vida online, a exposição nas redes sociais e a existência virtual, é quando começamos a reclamar disso tudo usando próprio Facebook como válvula de escape. 

Por que fazemos isso? Aí a gente entra naquela reflexão do equilíbrio, na clichê, porém necessária, conversa sobre equilíbrio. O equilíbrio de saber que as redes virtuais são parte dos avanços nas comunicações, e que o problema não está no mundo virtual, mas na forma como interagimos com ele. É o ponto de perceber que estamos presos na vida virtual até para reclamar dela, é quase como um alcoólatra ir ao bar para beber e se lamentar que o álcool não presta.

Para estabelecer um paralelo, basta lembrar que todo e qualquer avanço nas comunicações exige atenção, observação e reflexão. Não foi diferente com o telefone, que encurtou grandes distâncias mas distanciou as que já eram curtas. Não foi diferente com a televisão, que começou a nos mostrar o mundo, tirou a atenção da interação entre os convives de uma casa do centro de uma mesa para a frente de uma tela e começou a impedir que saíssemos por aí para ver o mundo com nossos próprios olhos. Não foi diferente com a popularização do celular que, com o SMS, tornou prática e rápida a comunicação do dia a dia, mas nos fez esquecer como é bom ouvir a expressão entonada na voz. Pra todos esses avanços sempre houve reflexão, ponderação, negação e aceitação. É diferente agora com tudo isso e muito mais reunido em um único aparelho à palma da nossa mão? Não, apenas é preciso um pouco mais de auto conhecimento e maturidade para lidar com a velocidade e o volume das informações e conexões que nos cercam e conhecer os limites para nos impedir de afundar nelas. 

Talvez seja muito difícil estabelecer esses limites para uma boa relação com nossas redes sociais. Um caminho pode ser a auto observação. Interagir, aproveitar tudo que há de bom no que essa tecnologia virtual pode nos oferecer: ver as fotos do filho acabou de nascer daquele amigo distante; trocar ideias com pessoas do outro lado do mundo; aproximar-se de outras culturas; estabelecer uma rede de contatos. Mas também perceber quando o mundo virtual nos suga, quando o volume de informações e ódio espalhado na rede nos perturba, o cansaço por não conseguir absorver tanta informação. E então, quando sentir vontade de usar a internet para dizer sobre o quão ruim é viver com ela, deixe-a de lado. Ou seja, desconecte-se de fato, seja por umas horas, alguns dias, ou semanas. Aprender a selecionar o que vemos ou ou que divulgamos de conteúdo informativo ou pessoal, perceber os limites, encontrar o caminho para não negar totalmente o mundo virtual - afinal, ele está ai e faz parte do mundo que conhecemos hoje - e para não nos perdermos dentro dele. 

A palavra chave, afinal, para todas as instâncias da vida, será sempre equilíbrio, e nem sempre é fácil encontrá-lo. 

E quem disse que a vida seria fácil?

domingo, 19 de junho de 2016

Poesia de prosa

Eu preciso de um poema
de uma flor
de um dilema
de uma dor
que algum dia
leu nas veias abertas
na prosa da poesia
de palavras não ditas
dentro do dilema
daquela dor
do seu poema
da minha flor.

terça-feira, 8 de março de 2016

Ser mulher


Ser mulher é ser guerreira. 
É ter vocação para ser mãe, e também para não ser. 
Ser mulher é ser esposa, é ser namorada.
É ser solteira, separada, divorciada.
É ser dona de casa por habilidade, ou apenas por obrigação.
É ser profissional.
É também não ser dona de casa. 
Ser mulher é ser o que ela quiser. 
Ser mulher é lutar pela liberdade de ser por si, sem estereótipos.
Hoje, e sempre, presenteiem-nos com respeito. 
Depois podem vir as flores e os chocolates, a gente fica feliz e agradece.
Feliz dia internacional da mulher!

quarta-feira, 2 de março de 2016

Quando ele vem chegando, envolvendo-te num abraço frio, melancólico e aconchegante

E, de repente, antes de chegar, ele já começa a mostrar a cara. O dia amanhece com vento, com chuva. Aquela chuva que se arrasta pelo dia inteiro. Alguns se confundem e logo se afobam, empolgados, achando que o frio de Winterfell finalmente se aproxima: "Ele chegou! Preparem-se, casacos e cachecóis!". Outros, deprimidos, já se sentem a falta do sol, do céu azul, do calor, daquela temperatura que ensopa o corpo de suor. Ele costuma aparecer pela manhã, de mansinho, desencorajando-te a sair da cama mas encorajando a tirar aquela bota do armário, a vestir aquela camisa de manga comprida, a pegar um lenço ou um scarf e envolvê-lo em seu pescoço. Aquele céu amanhece cinza e a chuva fina que insiste em cair ininterruptamente, como uma cena de enterro nos grandes filmes, leva-nos à melancolia, ou a introspecção, ou aos dois, ou à paz. Obriga-te ao guarda chuva, convida ao café, ou ao chá, ou a qualquer bebida confortavelmente quente. E, de repente, no meio do dia, ele resolve se esconder, ou dar uma volta e esquecer a que veio. Aquela manga comprida e o scarf perdem todo o sentido, e te incomodam profundamente. Mas ele volta no fim da tarde, no início da noite, e te abraça, envolve-te lentamente, traz mais um café, um chá ou um chocolate quente, e susurra bem baixinho: "Me aguarde, estou chegando bem juntinho. Outono."

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Pessoas que moram no meu celular

Existem pessoas que moram dentro de uma tela. 

Tenho amigos e conhecidos que moram dentro do meu celular, visitam meu tablet e viajam de vez em quando para o meu computador. 

Alguns, que moravam no plano físico, mudaram-se permanentemente para o mundo das telas, outros moram tanto no físico quanto no virtual, e muitos sempre estiveram lá desde que os conheci, alguns vieram para o mundo palpável uma vez na minha vida, depois nunca mais. Outros aparecem esporadicamente onde podemos compartilhar um café, um chá ou uma cerveja. 

Poucos vivem comigo mais fora do meu celular do que dentro dele, compartilhando os momentos mais importantes da minha vida. Alguns começaram vivendo dentro, depois vieram pra fora, outros começaram fora, e foram pra dentro.

A questão é que todos moram no meu celular. Muitos moram exclusivamente nele e provavelmente nunca pularão para fora dele, mas continuarão lá; pessoas com quem não compartilho um espaço físico, apenas ideias num espaço virtual, um complexo punhado de zeros e uns. 

É um mundo de relações paralelas que ora se interligam, ora nunca se cruzam, mas sempre acontecem.