quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Até a última gota (de água ou de paciência)

Há algum tempo se espalhou no Facebook um vídeo, encabeçado por atores globais, que convoca todos a se juntarem à campanha “Gota D’água” para impedir a construção da usina de Belo Monte.







Como resposta, estudantes da Unicamp elaboraram um outro vídeo, intitulado “Tempestade em Copo D'água?”







O discurso levantado por esses alunos, apesar expor o outro lado da moeda, é também tendencioso, aliás, como costuma ser todo discurso, afinal, a ideia ao se expor uma ideia é, normalmente, convencer o eleitorado.


Ok, o conceito do projeto Gota D'Água é falacioso e suspeito, mas este último também não convence por completo. É claro que não existe fonte totalmente limpa de energia, nem mesmo as tão aclamadas energia eólica ou solar, e, no modo de vida que levamos hoje, a demanda por eletricidade é cada vez maior; mas a quem essa usina beneficiará? Para quem de fato vai todo o recurso elétrico gerado? Será o dinheiro público empregado em uma usina que atenderá ao país ou a interesses privados, como a produção energia para a obtenção do alumínio? Bom, mas isso parece certo, vai movimentar a economia, legal! É ótimo para o país, não é? Claro, usar o dinheiro público para fazer uma usina nacional que atenderá essencialmente a interesses privados é realmente muito justo.


E só porque uma quantia em dinheiro, muito maior do que o orçamento da obra em questão, é enfiada em nobres cuecas sem o menor pudor e o desmatamento da floresta pela construção de Belo Monte é pífio perto daqueles acarretados por outras práticas, a execução desse "belíssimo projeto" se justifica? Isso é quase mesmo que dizer que um político que rouba, mas faz, pode continuar no poder porque outros também roubam, entretanto, nada fazem! Ora, se o dever de um político é servir ao Estado e à Nação de forma íntegra e o nosso dever é justamente cobrar de nossos representantes essa conduta, é também dever de todos pensar na melhor solução, tanto econômica quanto ambiental, ao desenvolver qualquer projeto nacional, e não justificar um erro ao apontar para erros maiores.


Sobre as fontes alternativas de energia, é claro que seria insano pensar em usinas eólicas ou solares para sustentar a demanda energética de um país tão grande tanto econômica quanto territorialmente, mas poderia ser o caso de pensá-las como meio de produzir ao menos a energia que aquece nosso chuveiro, uma vez que o grande vilão nas campanhas ecológicas de economia elétrica é justamente o próprio.


Mas o Brasil é um país emergente, já é uma das economias mais fortes do mundo, integramos o G20, fazemos parte dos BRICS, precisamos de energia para crescer! Vamos então participar desse projeto que vai alavancar ainda mais o crescimento! Só se esqueceram de mencionar que todo esse lucro é sempre compartilhado entre o rei e os amigos do rei.


Coloquemos os fatos em pratos limpos, afirmar que Belo Monte é um belíssimo projeto é um tanto quanto exagerado; ele pode não ser o monstro de sete cabeças que pintam os ambientalistas, mas está longe de ser um panda fofinho. Se por um lado os atores da Globo estão exagerando e distorcendo os reais fatos, o discurso desses estudantes está um tanto quanto ufanista, eles estão praticamente nos convocando a integrar uma massa de "Policarpos Quaresma¹".


Brasil, esse é um país que vai pra frente! Enquanto isso, a população fica para trás. A eles, a Champagne; a nós, o guaraná Dolly.


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1. Referência à obra Triste Fim de Policarpo Quaresma, romance folhetinesco brasileiro pré-moderno, de autoria de Lima Barreto.