terça-feira, 31 de dezembro de 2019

O velho ano novo

2019 não foi um ano fácil. Foi, na verdade, um ano terrível. Não conheço ninguém que tenha ficado satisfeito com o decorrer do ano que passa. 2018 já anunciava o apocalipse político-social que seria o ano que viria. E foi como previsto, e ainda pior. Estruturas abaladas, em todas as esferas, politica, social, pessoal. Pra mim não poderia ter sido diferente, terminei 2019 atropelada por um trem desgovernado. Pode-se dizer que o ano teve alguns highlights, mas no geral, foi muito, muito difícil.

Eu não acredito que 2020 será melhor do que 2019, uma mudança no calendário ocidental não altera o que somos, nem anula os efeitos do que foi sentido no ano que se vai, efeitos estes que ainda prometem perdurar por um bom tempo, e não há boas vibrações de final de ano que possam apagar o resultado do que foi plantado e cultivado durante anos.

Por outro lado, eu acredito que nós podemos ser melhores do que fomos, do que somos. Acredito no poder da resiliência, da capacidade de resistirmos às forças a que somos expostos todos os dias, contrárias à nossa vontade, sujeitos a qualquer tempestade e mudança bruta ou cruel em nossas vidas. Acredito no amor que nos mantém de pé, mesmo quando já não acreditamos mais em nada e quando sentimos que não temos mais força para seguir em frente, nas pessoas que lutam ao nosso lado, que amam ao nosso lado, que nos amam e que amam conosco. Desejo que em 2020 você seja mais forte, que sejamos mais fortes juntos, que nos sintamos menos sozinhos. Que aprendamos a amar com paciência, a respeitar o diferente e a entender que o que deve ficar para trás é o rancor, o medo, a dor, a raiva, a impaciência, a dureza. Que que as pessoas que valham a pena permaneçam sempre, porque, em tempos difíceis, união de forças e ideias afins se mostra ainda mais necessária. 

Que 2020 seja o ano em que, antes de ninguém soltar a mão de ninguém, aprendamos a segura-las com amor, firmeza para não deixar cair e leveza para ajudar a levantar quando for preciso. Que sejamos leves para que seja leve.

Feliz ano novo.

domingo, 22 de dezembro de 2019

Saudade é um negócio que dói

Saudade é um negócio que dói. Mas existe aquela saudade boa, da distância física mas de proximidade emocional, correspondida, que é amenizada com mensagens, cartas, telefonemas, uma chamada de vídeo, trocas que transformam o próximo encontro em uma explosão de amor. 

Existe aquela saudade dos que já se foram, que não pode se suprida de forma alguma, em que nada há a fazer se não deixar às lágrimas fluírem, e esperar que o tempo amenize a dor que cada cheiro, cada lugar, foto e lembrança traz pela memória afetiva, até que a ausência não mais machuque profundamente na alma.

Há também a saudade que magoa, que vem só de um lado, não há reciprocidade. Uma saudade que se sente sozinho, que se chora sozinho, sem ter como matá-la nem enterrá-la porque a outra parte não se foi, mas não te quer mais por perto. É uma saudade cruel, solitária, cheia de lembranças e memórias que apertam o coração e enchem os olhos de lágrimas com a dor da rejeição, e não há o que fazer se não esperar que morra sozinha, porque a outra parte decidiu seguir em frente sem você. 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Eu ainda estou aqui

Eu não estou lá, mas ainda estou aqui. Sair das redes sociais não é algo simples como pode parecer, parte da sua vida está ali. Mesmo que virtual, é parte da sua história, da sua formação e construção social. Estar fora do Facebook é desconectar-se do mundo, dos acontecimentos minuto a minuto, das milhares de histórias que contam aqueles que estão longe, é deixar de postar histórias e fotos compartilhados com amigos e família. É deixar de existir para centenas de pessoas. 

Manter-se no Facebook tampouco é fácil, é preciso muita estrutura emocional para filtrar excesso de informações lidar com pessoas, emoções e discursos de ódio. Sem equilíbrio, manter-se no Facebook é inviável. Sem estrutura emocional, é impossível. Assim, precisei sair do Facebook e, posteriormente, do Instagram em nome da minha sanidade mental e emocional. No momento, estou viajando, e fazer uma viagem "offline" é algo no mínimo diferente. Sempre ouvi dizer que as redes sociais são uma vitrine da falsa felicidade. Deve ser verdade, ninguém pode ser tão feliz como mostram seus perfis. Postar as fotos de uma viagem é, de uma certa maneira, ostentar, mostrar sua felicidade daquele momento, esperar comentários, curtidas e aprovações. Nesse sentido, uma viagem com destino para dentro de mim mesma, buscando conexões, não tem propósito online. 

Não sei lidar com a ansiedade que desenvolvi, os gatilhos emocionais que as redes sociais me têm despertado. Não tenho vontade mostrar felicidade que eu não estou sentindo para alguém invejar uma realidade que não existe. Expor minha verdadeira angústia também não é algo que vá me acrescentar em algo, afinal, não temos apenas amigos no Facebook, há ali também meros conhecidos, curiosos, pessoas que nada nos acrescentam e veem a nossa dor sem a menor empatia. 

Estou desconectada do mundo e não sei até quando. Minhas contas estão desativadas até que eu aprenda a lidar com as minhas próprias emoções. Quando penso em voltar, ainda tenho vontade de chorar e minha ansiedade desperta. Tenho usado cada vez menos o celular, e WhatsApp é a única rede que pude manter para que eu não me perdesse totalmente de quem realmente importa e, ainda assim, preciso aprender a lidar com ele. 

Desconectar-se é uma decisão pessoal quando necessária. Desconectei-me das redes sociais quando percebi que eu já estava desconectando de mim mesma.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

A latinha


Eu guardei essa latinha por sete anos. Era a primeira vez que sentávamos juntos para conversar. Acabaram as balinhas e eu fiquei com a latinha. "É boa para guardar clips" você disse.
Em fins de relacionamento, as pessoas precisam lidar com lembranças, cartas de amor, músicas. Nós não tivemos nossa música, nós não trocamos cartas de amor. Mas eu tenho essa latinha e agora eu tenho que lidar com ela. Ninguém, acho que nem você, faz ideia do que essa latinha representa, todas as lembranças que ela me traz e o carinho que a envolve. A latinha da conversa amiga, das palavras de conforto e a voz macia que sempre me acalmava. Do amigo que o tempo transformou em amante, meu amor. 
Hoje, eu encarei essa latinha. Ela foi para o lixo, saiu do lixo, voltou para o lixo e saiu do lixo. Eu não pude jogar fora uma lata vazia ainda tão cheia de lembranças do amor, amante e amigo que se esvai a cada lágrima.