segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Uma carta não endereçada

Hoje escrevo com o coração um pouco apertado. Isso nem deveria ser um texto e sim uma carta, mas percebo de que não haveria razão para endereçá-la a quem eu sei que não leria o que estou escrevendo aqui exatamente agora.


Não sei por que isso aconteceu, mas de repente eu me vi querendo mais do que aquilo que eu esperava que fosse e foi vivido. Na verdade, foi muito mais do que o esperado e me vi mais envolvida do que deveria estar. Acho que fui até o céu e vi as estrelas de pertinho, mas mal tive tempo de tocá-las e fui obrigada a voltar. Não, eu não queria esquecer, mas como não poderia ser diferente, você me fez ter que esquecer.


Não que eu tenha esquecido, mas já estou naquele processo de quando sabemos que não tem outro caminho. Eu bem sei que é possível, não demora muito, só estou um pouco cansada de ter que passar por esse processo. Cansa, desgasta e tal. Mas que outro jeito? Sabe como é, a gente vive, a gente ri, a gente se diverte, não deixa a vida parar, e quando vê isso já faz parte de um passado bom de se lembrar, mas que não desperta saudades nem vontade de chorar. E então a gente sabe que pode esquecer, porque isso já aconteceu antes.


A primeira vez parece o fim do mundo, depois descobrimos que a vida é tão boa que isso não passa de um leve desconforto.  Ah como eu queria não precisar esquecer... Mas acho até que já estou esquecendo, com a certeza que nada fiz de certo ou errado, simplesmente foi como deveria ter sido: infinito enquanto durou.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal

Não importa que é o Natal, se é uma festa em louvor a cristo ou uma razão para reunir a família e os amigos, tempo de paz ou diversão, comida e presentes ou apenas devoção.  Uma festa religiosa? Que seja! Uma festa capitalista? Que seja! O importante mesmo não é o que o natal vende, mas aquilo que compramos dele.


Não importa qual o motivo, mas que seja um ótimo natal com ou sem presentes (eu quero), com ou sem comida e bebida (eu quero) e com um largo sorriso estampado na sua cara, muitos abraços, muito amor e muitas risadas. Feliz Natal!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

2010

Não desejo para 2010 amor, paz e felicidade, pois isso não depende de desejo já que é feito de vontade. Vontade humana já esquecida, ofuscada pelo egoísmo que encara o abismo da decência da humanidade. Não sei mais o que é honestidade, uma palavra que há muito perdeu o sentido, mas eu não peço muito, só um pouco de verdade. Que venha o próximo ano, não cheio de paz e harmonia, mas cheio de vontade para entender que muito mais que apenas desejo, é preciso agir com amor e sabedoria.


Eu não desejo saúde e educação, mas espero coragem para que lutemos por todas as condições sem depender da caridade. Que as escolas não tenham amigos, mas professores bem pagos e qualificados. Que as famílias não tenham bolsa, mas condição de viver sem ela. Que doações de qualquer natureza não aliviem sua consciência, porque elas não resolvem o problema e te desobrigam de pensar, de agir, de refletir e mudar o que quer que seja.


Não, não quero mais um texto de palavras vazias, quero a consciência entendendo o que é a alegria, não um mundo de cegos que continuam desejando a mesma coisa todo final de ano, sem qualquer propósito ou ideal, cheio de desejos sem vontade e ausência do senso de realidade.


Não! Eu não peço muito, só um pouco de bom senso, da próxima vez que for a padaria e receber o troco errado, não pense que foi esperto por não avisar o empregado. Você não ficou mais rico por ganhar algum trocado, só empobreceu a humanidade deixando o seu legado. Legado de corrupção, de pobreza, pobreza de espírito e fraqueza.


Eu não peço muito, só um pouco de decência. A corrupção que vem de cima nos enoja, e a que vem de baixo não se releva. Mas que em 2010 fale mais alto a sua consciência, porque se você nada vê de mal em ser esperto como tal e entende que para seguir em frente deve fazer como toda gente, pois não há mais quem seja decente, lamento lhe dizer que não adianta desejar alegria, saúde ou prosperidade, pois nada disso pode ser verdade, se não puder conhecer o mínimo de honestidade.


Que seu desejo seja feito de vontade, que a vontade seja mais do que a verdade e não se constitua apenas de palavras. Que o ano não inicie apenas cheio de esperança, se sim repleto de mudanças. Mas a esperança não se deve perder, uma vez que sem ela não haveria qualquer colorido e na vida não consistiria qualquer sentido. Que seu ano seja cheio de amor, esperança, mudança e atitude. Entretanto, não esqueça da abundância, da cerveja e da comida, porque sentimentos não enchem o estômago, e de barriga vazia não existe paz, amor ou alegria. Feliz 2010!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Eu não quero esquecer






Eu sei que vou esquecer, mas eu não quero, não mais uma vez. Eu não quero mais saber do que ja sei ha muito tempo: eu posso esquecer. Eu sei, eu consigo, mas eu cansei de esquecer, esquecer é desgastante. Eu esqueço porque a vida continua e logo chega com novas lembranças e motivos pra sorrir, mas estou cansada de esquecer. Não, eu não quero mais esquecer... por favor, não me faça ter que esquecer.

Escrever, escrever, escrever...

Hoje estou aqui, precisava escrever. Nada me veio à mente, só me resta escrever sobre minha frustração de não conseguir escrever. Na verdade tantas coisas me passam na cabeça, um turbilhão delas me deixam tão confusa que  é como se realmente viesse nada. Só sei que preciso escrever. Escrever é como abrir a vávula da panela de pressão, não sei pra quê, não sei quem lê, não sei porquê.  Quando quero gritar, eu escrevo, quando quero chorar, eu escrevo, quando rio incontrolavelmente, eu escrevo, quando sinto paz, eu escrevo. Agora eu quero rir, chorar e gritar e não posso fazer nada além de escrever.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Da moto às Seis Marias

Geralmente, as melhores coisas da vida não são programadas, pois elas parecem na melhor hora quando menos esperamos e sempre nos surpreendem. Definitivamente era fácil fazer fugir do mais do mesmo. Dizem que quem quer arruma um jeito, quem não quer arruma uma desculpa. Ela por fim arrumou um jeito de não arranjar uma desculpa.


É clichê dizer que devemos aproveitar cada momento de nossas vidas como se fosse o último, mas raras são as vezes em que esse clichê é levado realmente a sério. Entretanto ela soube aproveitar cada segundo da viagem que decidiu fazer. Disseram-lhe que nada de diferente havia naquela cidade, mas não foi difícil descobrir que isso depende do olhar de quem a vê.


Existem pequenas coisas ao longo da vida que são simples, e sem elas faltaria tempero para saborear os dias. E foi nessa viagem que aconteceram três dessas pequenas coisas que ela havia experimentado pela primeira vez. A primeira delas foi pegar a garupa de uma moto, todo medo e insegurança que sentia desapareceram no primeiro instante em que viu, tocou e sentiu plena confiança em quem a conduzia. Fechou os olhos, saboreou o vento, abriu logo em seguida e olhou a sua volta, seu coração acelerava não de medo, mas pela emoção e alegria de uma criança que está experimentando uma doce novidade. Seu desejo era de que aquele momento perdurasse eternamente enquanto durava.


A segunda dessas coisas foi encarar uma queda d’água em um dia chuvoso, não havia uma viva alma sequer a não ser ela e um velho amigo. Tomada por um desejo incontrolável de entrar em comunhão com aquele lugar, mergulhou na cachoeira de roupa e tudo, voltaria para casa enxarcada, mas quem se importa? Aquele momento era único e imperdível. Ali permaneceu por horas, e saiu apenas quando percebeu que a noite caia perderia a trilha de volta para a estrada.


Não satisfeita, foi justamente na sequência que aconteceu a terceira pequena coisa. Pronta para ir para casa, feliz e ensopada, seu amigo lhe sugeriu uma louca idéia: seguir dirigindo para a praia ao invés de ir pra casa. Hesitou, por um instante a preguiça falou mais alto, mas pensou “Preguiça de quê?”, ela estava indo relaxar, preguiça de relaxar? Isso não fazia sentido algum. Foi então que seguiram por uma hora e meia em direção à cidade praiana. Era meia noite quando sentaram para ver o mar, deitaram na areia e começaram a pensar e refletir sobre a vida, procurando as estrelas que estavam escondidas naquela noite. Ele entrou no mar, ela ficou olhando, mas não demorou muito para que submergisse na água salgada, permanecendo ali por horas ao longo da madrugada. Quando olharam para o céu, perceberam que as tímidas estrelas começaram a aparecer, logo revelando um céu nublado e ao mesmo tempo completamente estrelado. As estrelas estavam aos pares, para onde quer que olhasse, ela via duas estrelinhas lado a lado, e quando olhou para as “Seis Marias”, lembrou que faltava-lhe os óculos.


Voltaram para a casa de alma lavada, na estrada completamente escura, pararam em um refúgio, sentaram na janela do carro e perceberam que agora as estrelas apareciam sem nenhuma timidez. Ao som de grilos, pássaros e tantos outros sons da natureza fundidos naquele ambiente, ficaram ali a admirar e a conversar. Seguiram viagem e naquela manhã ela dormiu completamente em paz, seus sonhos foram calmos, sua mente estava completamente descansada.


Como a vida pode ser tão boa! Até mesmo ir num bar naquela viagem foi diferente, tudo era diferente, tudo era novo, tudo era mágico. Ficou-lhe na lembrança a saudade de cada momento vivido, sentido, experimentado. Ela voltou nas nuvens,  e de vez enquando olhava pra elas pela janelinha do avião.


“Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure” (Vinícius de Moraes)

sábado, 5 de dezembro de 2009

Dignidade

Se existe uma regra inquebrável, é o fato de minha dignidade ter maior valor do que qualquer desejo ou vontade que possa me ocorrer. Não sou santa, muito menos do pau oco, faço o que tenho vontade e não me faço de rogada, até o momento em que minha dignidade entra em jogo, e eu sei muito bem qual é o limite dela.


Preservar a digninidade é o mínimo para manter a descência humana. Não preservá-la é jogar na lata do lixo qualquer vestígio de respeito que você possa impor, é rebaixar-se ao cocô do verme que devora a escória dos restos do aterro sanitário. Posso perder a força, a coragem, os cabelos... mas a dignidade é irmã inseparável do amor próprio. Um brinde à dignidade.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Enquanto isso, na mesa ao lado...

Rodeada de amigos e saboreando uma gelada, ela pensava porque é toda sexta feira estava naquele bar, e sempre o mesmo bar. "Se ao menos o bar mudasse... Mas beber é bom, conversando com amigos, melhor ainda!” pensou. Entretanto, aquilo não mais lhe satisfazia. Uma sensação de falta de criatividade e mais do mesmo lhe apoderava. Não haveria nada mais para se divertir além de ficar alegre com a cerveja compartilhando a tão agradável cultura de bar?


Cerveja é bom, mas ela sentia falta de algo novo. Pensou nas estrelas que a tanto não via, pois a poluição e as luzes da cidade apagam o céu. Lembrou dos quiosques de suco que possuem tantos sabores quantos você pode imaginar e no porque nunca ninguém pensava em chamá-la para um belo sucão. Aliás, o que haveria de diferente para se fazer nessa cidade? E ela bebia, brindava e ria. Não podia ser diferente, beber é muito bom, só não preenche um certo vazio que não espera que toda sexta feira acabe em um boteco.


"Teatro!" pensou com seus botões. Teatro é algo divertido, e de quebra a noite pode acabar em um bar, agradando a todos. Mas que preguiça que dá fazer algo novo! Vencer a inércia parece exigir um esforço muito grande, é tão mais fácil buscar sempre mais do mesmo. Enquanto isso, ela beberia, brindaria e continuaria rindo às sextas-feiras. Melhor mais do mesmo do que nada de nada!

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Conversa de Bar

Depois de um longo dia de expediente, amigos compartilham cerveja e risadas, discutindo sobre a vida, a paz no mundo e  solução para a fome na África.


Zé não bebia cerveja, compartilhava da companhia de seus amigos bebendo um guaraná com gelo e laranja. Ele não tirava o olho do relógio, sua mulher o esperava em casa. Ele não podia reclamar, pois ela só estava esperando-o em casa por não ter permissão do marido para sair com amigos. Um não respirava sem que o outro soubesse, vivendo felizes para sempre num mundinho que cabia dentro de um apartamento de quatro cômodos. Ao ver Mané na segunda garrafa de cerveja, Zé advertiu:


- Cara, como você bebe! Ainda vai morrer desse jeito!


- Pra morrer basta estar vivo.


- A vida não é só bebida.


(silêncio)


A face de Mané tornou-se um misto de indignação com dúvida, não sabia bem se tinha compreendido o que havia acabado de escutar e também não sabia exatamente o que deveria dizer, mas sentiu pena daquele infeliz. A única coisa que faltava ali era enterrar o sujeito e marcar a missa de sétimo dia, sem ter a certeza de que seria mesmo o sétimo dia, pois já estava morto fazia muito tempo. A resposta veio logo após sair do transe filosófico gerado pela cultura de bar:


- A morte também não.

sábado, 7 de novembro de 2009

Carta para alguém em algum lugar

Olá,


Ainda não sei o seu nome, mas no momento estou aqui na varanda de casa, uma noite bem quente com uma leve brisa refrescante, não há no céu uma única estrela visível, apenas núvens e uma ameaça de chuva. Ouço o som da brisa sobre a árvores e as únicas fontes de luz disponíveis provém da lua e da tela do meu notebook.  O silêncio é quebrado por crianças que se divertem na rua com a falta de energia elétrica. O barulho da criançada causa um leve alvoroço nos cachorros que latem, mas logo cessam, retornando à paz inicial do chacoalhar das folhas.


Em meio a esse silêncio estou aqui pensando em você.  Sei que não nos conhecemos, e se nos conhecemos, ainda não nos descobrimos, mas eu sei que em algum lugar você existe. Não sei nem se falamos a mesma língua, mas estou refletindo sobre nossas vidas, eu aqui nessa varanda e você em algum lugar, fazendo o quê? Estaria casado? Solteiro? Comendo uma pizza? Dormindo? Sentindo a mesma brisa dessa noite quente ou congelando em algum outro fuso horário? O que você está fazendo nessa noite de 7 de novembro de 2009, às 8 horas e 56 minutos do horário de Brasília, em pleno horário de verão brasileiro? Não sei quanto tempo levará para nos encontrarmos, mas guardarei essa pergunta para você algum dia, e quem sabe você se lembrará desse dia como eu me lembrarei.


Acho que estamos juntos agora de alguma forma, pois embora eu não te conheça, ou simplesmente não saiba quem você é, estou com meu pensamento e meu coração focado em você. Nesse exato momento a energia elétrica voltou  e as crianças gritaram em comemoração, o barulho da cidade começa a penetrar na paz dos meus pensamentos. Vou ficando por aqui, me despeço até o dia que nos encontrarmos, nos conhecermos ou nos descobrirmos.


Com amor.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Conversa entre o Sono e a Insônia

- Bem, hora de ir pra cama! Já deu a hora, amanhã é dia de acordar cedo e... ei! O que você está fazendo aqui?

- A noite quente é uma criança!

- Não, ela não é uma criança, ela é curta e há pouco tempo para dormir.

- Dormir é perda de tempo.

- Não, dormir é essencial, porque não me deixa fazer meu trabalho?

- O dia inteiro se passa trabalhando, quer horário melhor para se aprofundar estudando? Pra que perder tempo dormindo?  Há tantas coisas que podemos fazer, tantos livros que acabamos descobrindo! Internet pra navegar, msn pra prozear! Porque você não me acompanha?

- Acho que não daria certo.

- Poderíamos nos conhecer melhor!

- Somos bem diferentes, eu venho quando é para dormir e você quer manter acordado, acabamos brigando a noite inteira, me deixando bem perturbado.

- Eu sou uma dama da noite, dormir é perda de tempo eu já disse, acordado é que se produz, dormindo tudo é apagado, venha comigo para o lado da luz!

- Sem dormir não posso ir embora, fico vagando durante o dia porque não fiz o que deveria estar fazendo agora!

- Você é muito estressado.

- E você é muito folgada!

- Relaxa, toma uma gelada.

- Vou ali e já volto, fique aí com seu livro, quando voltar, espero não mais te encontrar.

- Como você é sensível.

[tempo]

- Ainda está aqui?

- Sim, trouxe uma pra mim?

- Já chega! Me dá esse livro, se manda!

- Ei! Devolve isso aqui!

- Chega de leitura, chegou a hora do descanso.

- Se não tem leitura também não tem sono, vou ficar aqui enquanto você rola na cama e...

- ZZzzZZzzZzZzz

- Acorda!

- Ahn? Hein que está acontecendo?

- Ainda estou aqui.

- Nossa... fazendo o que?

- Se eu não posso ler, você não pode dormir.

- Como você é egoísta, eu deveria... ZzzZZzZzzZz

- OLHA LÁ!!!!

- Hein? Que? Você de novo? O que é que está acontecendo afinal?

- Tem um barulho na janela, você não vai ver o que é?

- Só quando eu acordar... ZZzZzZZzzZ

- Você já acordou e...

- ZzZZzZzZzZZzZzZz

- Ei! Acorda aí!

- ZZZZZzzZzZzZZZzzzZzZzZzzzzzzZZzZZZzZzZzZZZZZZZZZzzZzzzZzz

- Você não tá ouvindo o barulho??

- ZZzZzZzZZzzZzZz

- Desisto, vou embora.

PI PI PI PI PI PI!

- Ahn? Que! ... !! .. despertador? Ah não... toca mais tarde...

PI PI PI PI PI

- Insônia filha da puta.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Flores

A surpresa vale mais do que a espera, mas encontrar mais do que se esperava é mais gratificante que jamais ter esperado coisa alguma. Uma vida sem esperança não vale mais do que uma flor de plástico. As flores de plástico não são como flores secas, uma flor seca não tem vida porque morreu, já a flor de plástico nunca viveu. Guardo flores secas no meio dos meus livros, mas vivo em meio as flores plantadas no jardim. Meu jardim é regado todos os dias, assim não preciso esperar que me tragam flores prestes a secar. Sementes são bem vindas!

sábado, 31 de outubro de 2009

Idiota

Não é preciso algo estupidamente idiota, basta que seja você que tenha feito e então será algo muito idiota (ao menos aos olhos seus). Sim, ninguém reparou que foi idiota, apenas você, mas é idiota. Todo mundo faz, mas só quando  é você quem está fazendo, é algo realmente idiota. E então você passa o dia todo pensando que não deveria ter feito aquilo e você se sente ainda mais idiota mesmo sabendo que não foi idiota de fato, mas isso não faz com que você se sinta menos idiota. É impossível esquecer o quão foi idiota, ainda mais deixar de imaginar o quão idiota alguém deve estar pensando que você é mesmo sabendo que ninguém está interessado nas suas idiotices imaginárias. Já é impossível  lembrar quantas vezes você se xingou de idiota, de tão idiota que foi em pensar que está sendo idiota. Quanta idiotice!

domingo, 25 de outubro de 2009

Once upon a time...

The sky is blue
when something comes true
the sky is grey
when there's nothing to say
We can see the moon
when something good is coming soon
we can dance with the stars
reflecting the tears
when there's nothing to fear
We can hold the sea
'cause our arms are bigger
than eyes can see

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Escolha inconsciente

Se eu pudesse, eu faria uma escolha, como quando você está cansado de uma operadora de celular e, sem o contrato de fidelidade vigente, resolve mudar para outra que te oferece mais vantagens, ou como quando você escolhe a roupa que vai vestir, o que é que vai almoçar e o sabor do suco. Como quando escolhe o destino de viagem nas suas férias ou como quando escolhe a profissão que vai seguir e decide que rumo tomar. Se fosse possível, eu saberia exatamente para onde direcionar tudo isso, o mais estranho é saber o quanto eu gostaria que fosse possível fazer essa escolha, o quanto eu me foquei para que ela acontecesse e o quão frustrante foi o resultado.


Quando se fala de coração, a referência não é meramente simbólica, os sentimentos a ele relacionados são comumente impalpáveis à matéria, mas não são imperceptíveis ao músculo pulsante que bate no meio do peito. As batidas são tão incontroláveis quanto os próprios sentimentos, é nele que sentimos toda a emoção que não podemos controlar ou decidir, apenas amenizar e esperar ir embora a seu tempo, ou então simplesmente observar e alimentar a sua intensificação.


Não é consciente a escolha por quem ou o que  seu coração vai bater mais forte e fará suas pernas tremerem, deixar seu rosto corado ou perder as palavras. Nunca entendi como essas coisas funcionam, eu juro que desejei muito que isso fosse diferente, e então eu saberia o que fazer, quando fazer e como fazer. Mas minha cabeça e meu coração não se entenderam. O cérebro mandou o coração bater mais forte e ele não bateu, mandou as pernas estremecerem e elas não obedeceram, pediu para os meus olhos brilharem e eles não houve um cintilar sequer. Eu quis perder as palavras, mas elas estavam todas na ponta da língua, eu quis andar sobre as nuvens, mas eu só fiz sentir o chão concreto. Nem a grama estava lá, sem relva úmida para espalmar e não haveria no céu estrelas para contar.


E talvez é só por ser inesperada é que se chama emoção, e por ser indomável não anda ao lado da razão. Entre lágrimas e sorrisos é talvez o que faz a vida ser tão intensa. Mas escrevi tudo isso apenas para dizer que se eu pudesse escolher, a escolha seria você.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Um Enforcamento Seguro

Era por volta de oito da noite quando a campainha tocou. Ele chegou falando alto, tinha um bigodinho preto mequetrefe, era baixinho e gorducho com o cabelo pintado. Não há com o que fazer comparações em relação à sua aparência, pois a comparação que eu faria é com um vendedor de seguros e é exatamente isso o que ele era. Já estava preparada para o que me seria apresentado, preferi não me estender muito e logo escolher o plano que me adequava. Não fosse minha experiência de já ter sido vendedora um dia (não de seguros obviamente, eu não desceria tão baixo) teria sido um pouco mais difícil me livrar de sua lábia.


Vendedores são criaturas abomináveis, piores que operadores de telemarketing. Um operador de telemarketing está ali por não ter mínima vocação para vendedor e dificilmente consegue te convencer de algo porque ainda não aprendeu a falar (se algum operador de telemarketing já te passou a perna, se mata, você é mais burro que ele), e para se livrar dele basta bater o telefone ou se fazer passar por um empregado cujo patrão saiu e você não sabe quando volta. Um vendedor não, vendedores são criaturas vindas do inferno treinados para te enganar e levar a sua alma. Em questão de segundos um vendedor consegue se passar por seu maior amigo da infância e faz parecer lindo aquela blusa tamanho P cujo decote exalta os seios fartos que, sem o sutiã, sentem o chão gelado.


Quando o vendedor não é seu melhor amigo, é a criatura mais antipática do planeta (me desculpe por interromper seu almoço frio de marmita atrás do balcão!) e não podemos nos livrar dele como fazemos com os operadores de telemarketing. Nem todas as lojas são como Americanas, C&A ou Renner. Lojas de departamento são ótimas, você mesmo escolhe o que quer levar, prova a roupa com o direito de ter a noção de que aquilo ficou ridículo e sem que um vendedor pentelho te jogue outras que vão ficar "maraaaaa" com aquela calça que você tinha escolhido, ou simplesmente levou para o provador porque o vendedor te empurrou. E então é só passar no caixa, pagar e tudo está resolvido, o único porém é que se você precisar de algum auxílio eles vão todos correr de você. A missão de cada Associado (denominação criativa para os trabalhadores que são pagos para perambular pela loja vestindo a camisa da empresa, não?) é dizer “É no outro corredor, senhor” ou “Procure outro associado, senhor, esse não é meu departamento”. Mas confesso que não me incomodam, que eles fiquem onde estão. Agora tente se livrar de um vendedor! Ou você sai da loja deixando seu salário ou sai puto porque não conseguiu levar o que queria.


Não gosto aquelas lojas que tem mais vendedor que cliente, eles formam um paredão na entrada que dá até medo. Nessas aí eu nem ouso entrar, o cliente mais assíduo é uma mosca varejeira que vai todo dia pousar no pão meio comido que um dos vendedores deixou na mesinha perto da porta de entrada para o estoque, porque ele não teve tempo de almoçar ou estava desesperado pensando que o cliente a quem ele ia destinar a venda que lhe concederia o bônus de funcionário do mês e a maior comissão da equipe, apareceria bem na hora que ele estivesse almoçando, era melhor passar fome. A situação é desesperadora, fuja dessas lojas o máximo que puder, pois quando você passar pela porta, eles te agarrarão com tanta voracidade que te farão tirar até as suas calças.


Mas não há pior espécie de vendedor que vendedor de seguro. Não há escapatória, ou você encara o belzebu picareta ou fica sem o seguro. O pior é que comprar um seguro é como dar o nó na própria corda que vai te enforcar mais tarde, mas pelo menos você já sabe como vai morrer e não será pego de surpresa futuramente. Um vendedor de seguros não te deixa pensar, não permitirá que você conclua uma frase inteira e você nem vai se dar conta disso.  Ele está treinado para que todas as falas decoradas do manual "Como vender Seguro de Geladeira para um Esquimó" pareçam respostas a todas as suas dúvidas. Se você perguntar qual é a cura da AIDS e a solução para a fome na África a um vendedor de seguros, ele vai te responder, a resposta pode não servir, mas você vai ficar satisfeito.


E ali estava ele, com sua pastinha preta, já sentado e espalhando todos os papéis sobre a mesa, com um copo de água gelado oferecido em um pires (para parecer chique!) e tentando despejar sua lábia toda em cima de mim, eu desviava de cada palavra como o Neo desviava de uma bala quando estava na Matrix. As perguntas que eu fazia eram puramente técnicas e as conversas que surgiam era pior do que aquelas de elevador, quando você entra nele e só tem uma tia com uma sacola de compras em mãos, comentando como o quilo da cebola estava caro. Mas no fim das contas deu tudo certo e consegui dar o nó na minha corda, logo poderei me enforcar com todos os benefícios e segurança que só a Amil pode oferecer.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Orgulho de não ser pobre

Certa vez, quando eu disse que não baixo a cabeça para conseguir alguma vantagem financeira, disseram-me para que eu continue pobre com meu orgulho, na mesma posição, dentro do mesmo emprego de merda, ganhando a mesma miséria para o resto da vida.


Mas de que tipo de pobreza e orgulho estamos falando aqui? Integridade e amor próprio não tem preço. Não falo agora de moral ou ética, esses dois conceitos poderiam dar uma tese a qual não pretendo iniciar aqui, e certamente eu não teria conhecimento nem todas as ferramentas para uma discussão concisa e embasada.


Mas não creio ser demérito algum prezar mais os próprios valores do que os valores materiais que nos acercam. Uma consciência tranquila vale mais do que uma vida cheia de luxos. Luxo é muito bom, quando o preço não é a própria alma. Vender-se por dinheiro é como vender a alma ao Diabo, creio que ainda não cheguei a tal ponto de desespero para recorrer a essa opção.


Todo ser humano tem seu preço, todo indivíduo é corruptível em algum ponto, seja ele financeiro ou não. Ocorre que algumas vezes o preço é tão alto que a corrupção não simplesmente não acontece, ao menos não intencionalmente. É triste notar que atualmente as pessoas se vendem tanto por tão pouco que não podem ter moral alguma para apontar o dedo para o mais execrável dos corruptos.


É fato que não se pode condenar ou medir uma ação pela quantia monetária movimentada, corrupção é corrupção, seja ela no desvio de milhões ou na omissão do ato de ter recebido um troco a mais na padaria. Não é a consequência financeira que está em questão, mas a ação de quem se corrompeu. O pensamento malandro é o mesmo, em ambos os casos a política de se dar bem a qualquer custo prevaleceu. Da mesma forma, não há diferença entre os políticos e os que compactuam com suas falcatruas, aceitam suas imposições e tornam-se submissos para conquistar ou manter posições de vantagem.


Não me venha dizer que isso é orgulho, não me venha dizer que vou continuar pobre. Não vou baixar a cabeça, não vou me corromper por tão pouco, não vou me submeter a situações humilhantes. Não estou morrendo de fome, nem estou em alguma situação entre a vida e a morte. Se eu tenho um preço, ninguém ainda encontrou um meio de pagá-lo, pois esse valor não é financeiro.


Posso não ter tudo que quero, mas minha consciência vale mais do que qualquer bem material que desejo, já desejei ou porventura venha algum dia a desejar. Eu não sou pobre, sou rica, sou muito rica. Pobre mesmo é quem não consegue ver e entender esse tipo de riqueza.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Corredor de ilusões

Já fazia muitos dias que ela não passava por ali, aquele corredor trazia-lhe lembranças das quais não queria esquecer, apenas deixar na memória das ilusões. Passaram-se dias, semanas fugindo de algo que não estava mais lá. Até que por um momento, evitando uma tempestade que lhe abatia, adentrou por aquele caminho. A porta estava fechada, não mostrava-lhe ausência ou presença, era apenas uma porta fechada.


Mais alguns dias seguiram e a passagem voltava a ser habitual, ao menos nos momentos que ela sabia que não encontraria a porta aberta. Olhar era inevitável, era como se algo ainda permanecesse ali, intocável. Nunca havia visto de outro jeito, ora fechada, ora aberta. Fechada era como sempre foi quando não estava aberta, hoje aberta é como ela nunca tinha visto e preferia não ver.


Outrora com papéis na mão chegou o momento que ela não sonhava, tampouco esperava, mas sabia que um dia chegaria. Passou pelo corredor e ela pôde notar que luz saía da porta que certamente não estava fechada. Hesitou, deu dois passos para trás e pensou em voltar. A idéia de ver aquela porta aberta de um modo como nunca tinha visto antes não lhe agradava. Na verdade um medo inexplicável tomou-lhe o coração, deu mais alguns passos, parou e lembrou-se de como era quando costumava parar e, com o coração acelerado, pensar se devia adentrar ou não, ora passando reto, ora adentrando e perdendo todos os sentidos que conhecia da palavra.


Decidiu continuar e ao chegar perto hesitou mais uma vez por alguns segundos, prosseguindo logo em seguida. Uma idéia louca surgiu-lhe à mente, mesmo consciente de que não podia ser verdade, olhou com o coração disparado como se fosse ver o que sempre viu. Mas tudo estava diferente, aquela ilusão havia passado e finalmente viu o que o coração evitava ver: ausência em todos os sentidos.


Não era a mesma luz, não era nem mesmo o local que costumava ser, apenas uma diferença foi capaz de mudar tudo. Depois de tantos dias, naquele momento ela havia percebido a efemeridade de todos os momentos, de tudo que foi, tudo que não foi, não deveria ter sido e a alegria sutil de tudo que é.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A pedra e o coração

A pedra é um das coisas mais belas existentes na natureza. A beleza de cada minério está na razão de sua existência ou simplesmente no destino que se dá a ele. Das mais belas montanhas rochosas às pepitas no fundo de um rio, do diamante ao mármore, da jóia à escultura, da moda à arte.  Seja como for, a pedra é bela quando é pedra, bruta ou lapidada, em bloco ou esculpida, nas montanhas ou no rio, ainda assim, uma pedra.


A escultura está dentro um bloco, cabe ao artista descobrir e extrair. O artista só é artista porque tem um coração, se seu coração fosse de pedra, ele não seria artista, e seu coração não seria coração, tampouco seria uma pedra. O coração é belo por ser coração, a pedra é bela por ser pedra. A pedra que não é pedra não poderá ser descoberta por um coração, e o coração que não é coração não poderá ser tocado por pedra alguma.


Uma pedra não pulsa, simplesmente porque é uma pedra. Um coração de pedra consiste em uma vida sem pulsar, e uma vida sem pulsar não conhece o amor. Uma vida sem amor não pode nem mesmo ver a maravilha natural de uma pedra.


Que as pedras sejam pedras e os corações sejam corações, porque os corações de pedra terão sempre a objetividade e a frieza presentes no reino mineral, mas jamais poderão exalar sua beleza.

sábado, 5 de setembro de 2009

I don't own my heart

It's all over again
I couldn't get this feeling
to forget what's missing
going down in pain

I could change myself
I've tried a way to start
I could see the truth
But I don't own my heart

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Reforma

Eu não ganho muito, mas não moro numa favela. Construí minha casa num terreninho que consegui comprar há algum tempo. A grana não era muita, a casa é pequena, tem quatro cômodos e ainda há reforma por fazer. Só que agora a situação apertou por conta da chegada da pequena Alice. Ela é a alegria de nossas vidas! Eu e a mulher vivemos muito bem, o que me preocupa é que daqui um tempo a menina não vai mais poder freqüentar a creche pública e terá que ir para uma escolinha, não temos condições de pagar uma particular e escola pública não é o sonho de nenhum pai para seus filhos.


Eu preciso de dinheiro, não é novidade, quem é que não precisa? Minha prioridade é minha pequena, que ainda por cima é asmática e precisa de tratamento. Quando os remédios acabam no posto, sou obrigado a comprar na farmácia comum, e como é caro! E agora a casa está com goteiras, preciso terminar a reforma. Fiz um empréstimo que não tenho como pagar, não foi o suficiente. Às vezes falta dinheiro para as compras do mês, tive que tirar da conta de luz para poder pagar o mercado. Agora a conta de luz ta atrasada, dentro de dois dias devem cortar a energia aqui de casa.


Devo confessar algo (que a mulher não me ouça!) mas vez ou outra fico pensando porque é que tive uma filha. Não que eu esteja arrependido, eu amo a Alice, ela é o maior bem que existe na minha vida. Mas, eu não tenho condições nem de sustentar a mim mesmo, porque cometi a injustiça de colocar no mundo uma criança a qual nem posso dar o que ela merece? Já me disseram que essas coisas não podem ser controladas, que é a vontade de Deus. Ora, que cruel esse Deus que quer ver seus filhos sofrendo! Eu não entendo como isso funciona, se temos a possibilidade de escolher certas coisas, porque é que devemos optar sempre pelo caminho mais difícil? Tudo bem que a idéia de que temos controle de nossas vidas é uma ilusão, muitas coisas acontecem sem que possamos decidir, simplesmente acontecem e temos que aprender a lidar com isso.


Mas eu acredito podemos escolher ter ou não ter um filho, Deus não vai pagar a escola da Alice, nem os remédios para asma. A vontade tem que ser minha, não dele!  Agora olho para a minha casa, tem goteira bem no quarto da menina, tive que mudar o berço de lugar. Preciso arrumar dinheiro para essa reforma logo, não posso deixar a criança nesse ambiente insalubre! José, meu vizinho, me contou o que ele fez para arrumar dinheiro fácil, ele não mora numa favela, mas ele construiu um barraco! Para que um barraco se ele tem uma casa? Descobri que aquela favela iria ser reurbanizada, a prefeitura estava pagando sete mil reais para o proprietário de cada barraco. Então José tinha um barraco. No dia da desapropriação o ele se instalou dentro do barraco, e eu acho que o infeliz é ator! O dito cujo fez a maior cena para que não derrubassem seu barraco, pois ele não teria para onde ir. E foi assim que ele conseguiu sete mil reais.


Mais tarde descobri que não era a primeira vez que ele fazia isso, e que não era só ele que tinha havia descoberto essa mina de ouro. Então comecei a pensar, se todo mundo faz, ora, é porque todo mundo é corrupto! Quem faz por sete mil, faz por milhões, quem faz por milhões, é político e corrupto. Eu não faço por milhões porque não sou político, não faço por sete mil porque os chamo de corruptos.


Não me sinto culpado pelos corruptos que já elegi. Já tentaram me convencer que eu sou o responsável pelo futuro do meu país e que tenho o poder de escolher meus representantes na sociedade. Fui mostrar-lhes então que nenhum daqueles candidatos me satisfazia, já que eu podia escolher, eu não escolheria nenhum deles, e então votei nulo. Mas passaram a me dizer que eu estava abrindo mão do meu direito de voto, me calando perante a sociedade e perdendo o direito de reivindicar meus direitos.


Se sou culpado por aqueles que elejo e se não o faço sou omisso, percebo então que não há para onde correr e que a única coisa que  realmente escolhi fazer foi colocar minha filha no meio disso tudo. E agora o que me resta é cuidar da pequena fazendo por ela o melhor que eu puder, quem sabe quando crescer ela tenha mais consciência que eu!

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Reencontro e despedida

É difícil explicar como tudo começou, mas quando me dei conta percebi nos momentos bons ou nos momentos ruins, sejam meus ou sejam dela, estávamos ali presentes, física ou mentalmente, dando apoio, se divertindo, chorando ou rindo.


A força do amor de uma amizade, o que seria de nós sem ela? Amizade que nem todo o oceano Atlântico foi capaz de separar ou enfraquecer. A cada reencontro uma emoção inexplicável, a cada despedida, a dor da saudade que espera a próxima vez. E lá estava ela, lágrimas e sorrisos, abraços e mais lágrimas até que não fosse mais possivel ver pelo portão de embarque.  Saudade... a dopo!

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Saudade

A saudade, definida por um dicionário, é a lembrança grata de pessoa ausente ou de alguma coisa de que nos vemos privados e o pesar que essa privação nos causa. Por diversas vezes ouvi dizer que saudade é uma palavra exclusiva da língua portuguesa; que outro idioma possui em seu dicionário palavra tão bela? Mas não conheço todos os idiomas, tampouco todas as culturas, como posso afirmar que tal sentimento não pode ser descrito em outra ou mais palavras? E mesmo que não possa, a saudade ainda existe, porque ela não é a palavra.


Talvez saudade seja o termo que mais chegou perto de descrever esse sentimento que certamente é universal. Quem já não sentiu saudade de casa, saudade da terra, saudade da querência, dos amores, do sabor de um beijo, de um abraço amigo, de alguém que já se foi, de um momento inesquecível, um olhar inconfundível? Saudade não tem fronteiras, não tem barreira, não tem sequer nacionalidade.


Saudade não se explica, saudade é pra sentir, saudade que é saudade aperta o peito numa dor inexplicável, na dor da poesia, dor da alma, berço das lágrimas. Sentimento que cresce na ausência de palavras, que se expressa pelos olhos. Manifesta-se nos gestos, aparece nas cartas, ameniza ao telefone, aumenta ao aroma de um perfume ou na presença de um local em comum... Saudade não mata, saudade é vital, saudade que não passa porque nada mais será igual. Saudade... essência da vida repleta de amor.

domingo, 9 de agosto de 2009

Uma caneta de 37 mil reais

Na vitrine a caneta repousava sobre uma caixa de mogno com detalhes em verde e dourado, forrada internamente com veludo vermelho escuro. O bico de pena e os adornos eram em prata, seu corpo era envolto de um material que eu nao soube distinguir, tão belo quando a cor de uma pérola, porém o tom do material variava como se o líquido perolado tivesse combinado com ouro, condensando a mistura não-homogênea. Não havia qualquer sinal de pedras preciosas ao longo do corpo do belíssimo objeto. Era uma caneta, bela, porém uma caneta. 37 mil reais... em uma caneta. Porque uma caneta?

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Um caminho mudado

O que ha muito estava escondido
De alguma forma apareceu
Já não mais está comigo
Porque isso não é mais meu

O sentimento ainda existe
É algo que não morre
E se por um acaso ele insiste
Basta que ele se transforme

O amor não padece
E  nunca está sozinho
De outra forma aparece
Ele muda seu caminho

Já sei para onde ir
Só não sei como começar
Mas basta estar a sorrir
Porque o caminho é amar

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O Velho da beira do rio

Eu aqui sentado na beira desse rio, perto dessas árvore que me dão as manga que to comendo, vou te contá, já vi tanta coisa antes de chegar inté aqui! Não, não quero falar do que a gente lê todo dia nos jornal, essa crueldade que existe no mundo não vale a pena ser comentada não! Eu falo das coisa bonita da vida, o amor por exemplo! Mas, óia, já conheci gente com vergonha de amar, pode? Mas gente, amor num é vergonha pra ninguém não! Porque é que mostrar o que sente é tão penoso? Certa vez conheci uma menina, muito bonita ela, apesar de que ela não achava isso não, num tinha muito auto estima a moleca sabe? Ela nunca dizia o que sentia e segurava tudo só pra ela. Coitada, o coração dela ficou tão amargurado... mas tão amargurado que a beleza dela era como uma frô murchando. É claro que falar "eu te amo" não vale sem intenção, tem que vir carregado de muito sentimento sabe, e de todas aquelas pequenas coisa que faz valer o dia e a vida, gentileza é a mió forma de mostrar isso todo os dia.


Mas eu acho que as pessoa tem medo de falá, de por pra fora o que sente, que prefere não fazê pra num tê que se arrependê! Mais tem pior arrependimento que não fazê o que queria ter feito?  Se ocê quer dizer que ama, diga, ara! Que se dane se num deu certo, pobrema de quem nao entendeu num é memo?  Eu nesse meu longo caminho nunca escondi nadinha, nadica de nada! Hoje to um pouco cansado sabe, mas vivi muito bem! Sempre disse e continuo a dizer pros meus neto: "Meus fio, é mió se arrependê do que feiz do que si arrependê do que num feiz" Ara, eu sei que isso é clichê, mas vai dizer que num é verdade? É claro que é ora! Nunca esqueci de dizer pra minha mulher (que Deus a tenha) o quanto eu amava ela, nem pros meus fio, meus neto, meus bicho... tem gente que acha que isso num é importante, ou tem vergonha de falar sei lá, mas dizê que ama nunca é demais sabe, faz bem pra alma e o coração! Eu digo inté aqui pra esse riozão, essas árvore, os bicho que por aqui corre, eu amo tudo isso! Êta mundão de meu Deus, isso que é o bão da vida sô! Agora já falei o que eu tinha que falá, num si acanha não,  pega logo uma manga do pé!

segunda-feira, 27 de julho de 2009

A Nova Roupa do Rei

SÁBADOS E DOMINGOS

16 horas - infantil
"A Nova Roupa do Rei"
Direção: Juliano Barone
Elenco: Dani Barros, Marilia Sgreva, Nathalia Neme, Renata Maciel,
Roberta Mattos e André Martins (stand-in)

Teatro Coletivo Fábrica - Sala 2
End: Rua da Consolação n°1.623

São Paulo

Ingressos: R$20,00 - R$10,00 (meia)


sexta-feira, 24 de julho de 2009

quarta-feira, 22 de julho de 2009

The man behind the star

You are that kind of person we just need to see once to remeber your smile for the rest of our lives. It's hard to say how I miss the conversations we had, talking and meeting as we were old friends giving a true and strong hug just a year after we have seen each other for the last time. I couldn't forget each kind gesture and the shine coming from your eyes. I remember you as a friend, the one I can't call, hug or touch, but I can feel since I've met the man behind the star. I know it will be always like this, and we'll see each other with the same strong feeling that happened before, and I'll be waiting for this day to come again, always somewhere.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Jornal do Barraco é acusado de incompetência

Recentemente o Jornal do Barraco foi acusado de cometer diversas impropriedades com a língua portuguesa, vários leitores ficaram horrorizados com os erros ortográficos e gramaticais que ocorrem constantemente na maioria das publicações. A suspeita é de que não haja jornalistas responsáveis pela redação, o que seria a principal causa dos assassinatos cometidos com a nossa língua natal.


O Jornal é a principal fonte de informações sobre Voldmort, dono da Prefeitura de Terra de Ninguém. Em nota dada à imprensa, o jornalista responsável Trouxa Mor afirmou que o periódico conta com a melhor equipe do ramo "Nós temos os melhores profissionais, trabalhamos muito e não temos tempo de revisar os textos, além disso, o público alvo de nossas publicações não repara nos erros." Mas não é o que parece, os erros são cada vez mais reparados e muito comentados, o que é uma vergonha para quem trabalha no local "Como um Trouxa que trabalha para o Jornal do Barraco, sempre tento corrigir os equívocos dos meus colegas, mas a emenda sempre fica pior que o soneto. O jornal já virou uma piada, ninguém leva a sério, o jornalista responsável não sabe nos instruir e eu nem jornalista sou! Definitivamente não sei o que estou fazendo aqui e sinto vergonha por isso" afirmou um dos Trouxas que preferiu não se identificar.


Os leitores do Jornal do Barraco afirmam que a equipe é incompetente e é liderada por alguém mais incompetente ainda "Eu nem sei porque ainda leio aquela [*], não tem nada de interessante, não aguento mais ouvir falar do Voldmort, a cara dele me enoja! É tudo o que aqueles incompetentes sabem fazer, venerar o Grande V! Haja Trouxa pra absorver tanta [*]! Como se não bastasse, cometem tantos erros em seus textos que eu tenho ao menos três convulsões diárias. Eu juro que nunca mais vou ler aquilo!" declarou o Trouxa Reclamão, "Eles não tem um responsável competente que possa levar a equipe adiante" reiterou outro Trouxa.


Em resposta às críticas, o Jornal do Barraco afirmou que as palavras do Trouxa Reclamão não tem credibilidade, pois ele sempre reclama de tudo e suas críticas ríspidas são conhecidas em toda a Prefeitura da Terra de Ninguém "Continuaremos com nossa missão de levar a melhor informação e fotos do Voldmort e seus Trouxas para todos os trabalhadores da Prefeitura de Terra de Ninguém, esse é o objetivo do nosso jornal, erros de português são um mero detalhe" disse Trouxa Mor.


Se você tem criticas ou sujestões ao jornal do barraco envie um email para comunicacaojb@prefeitura.gov.tn.br, eles prometem enviar respostas vazias e cheias de impropriedades gramaticais, fingindo que leram e prestaram atenção em todas as suas sugestões.

sábado, 4 de julho de 2009

Loucura, insanidade e consciência.

Foi em uma conversa descontraída que o assuto veio a tona. Não é nada novo, na verdade é algo constantemente questionado há muito tempo. O que é loucura? Quem são os chamados loucos? Como não poderia ser diferente, passei um tempo refletindo com meus próprios botões  sobre esse assunto após aquela breve conversa. Seríamos nós todos loucos de uma cultura insana que nos consome e nos faz acreditar que somos normais e a única real sanidade está presente nos chamados loucos da sociedade?


Observando o comportamento de quem acredito ser louco, e atenta à opinião contrária de que ali não consiste uma loucura mas sim a crença de alguém que está levando o que acredita ao pé da letra e ao extremo, percebi que ali há um padrão. Nenhum louco acredita que é louco e todos seguem seus padrões, levando sua vida dentro deles e tendo a certeza de que agem normalmente, sem que tenham a sua sanidade questionada.


Existem diversos tipos padrão, aqueles que são seguidos por muitos, gerados pela sociedade, e aqueles que são seguidos apenas por quem os criou. O fato que padrão é padrão, ficar preso a qualquer um que seja, é loucura. Seja beber sempre a mesma bebida, ter sempre as mesmas conversas, comer sempre a mesma comida  e encarar sempre o mesmo trabalho ou balbuciar palavras sem sentido, gritar no meio da rua e acreditar que vermelho é azul, o que realmente faz a diferença em toda essa loucura é a consciência ou a ausência dela.


Quantos de nós somos conscientes de nós mesmos? Quantos questionam seus próprios atos e crenças? Acordar, escovar os dentes, tomar banho e sair para o trabalho no modo automático é o padrão seguido por muitos, somos todos loucos de uma loucura insana. É insano caminhar e não saber o que se passa a sua volta, é insano trancar a porta do carro e não lembrar que o fez, é insano passar a vida toda seguindo padrões e não saber que o faz. Mas a maior insanidade de todas é saber que o padrão que segue nos faz infelizes e não fazer nada para mudar.


O louco que tem consciência de sua loucura, não é insano, é vivo.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

As palavras

Já dizia Pessoa que o poeta é um fingidor. Eu não sou poeta, e não sei dizer se estou fingindo. Eu escrevo melhor do que falo, de forma a controlar cada expressão e cada verbo conjugado no que quero que seja lido. Não que o que eu escrevo seja interpretado como na intenção da escrita, mas pode-se dizer que é comum encontrar as palavras de acordo com meu estado de espírito. Mas sendo a forma verbal uma limitação da capacidade de expressão e cada frase é calculadamente composta, então eu sou uma fingidora, e o único modo de conhecer o que está escrito por detrás das linhas é aprendendo a ler os olhos de quem as desenhou.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Pergunta chata!

- Porque você não come carne?

- Porque não me agrada.

- Mas você come peixe e frango, você tem dó só do boi?

- Eu não gosto de comer carne vermelha.

- Mas porquê?

- Já respondi.

- Mas porque não te agrada?

- Tenho um amigo que não gosta de peixe nem come salada, quer perguntar pra ele porque ele não come?

- Então você acha carne vermelha ruim?

- Também.

- Você não sabe o que está perdendo, não tem nada melhor do que um belo bife acebolado, uma picanha na brasa!

- Sei sim, não estou perdendo nada.

- Isso porque você não sente o gosto do churrasco na boca.

- Ahn... eu comia até um ano atrás, eu sei o que não estou perdendo.

- Essa modinha de vegetarianos... aposto que logo você volta a comer carne!

- Eu não sou vegerariana, eu como frango e peixe.

- E porque você come as carnes brancas?

- Porque eu quero comer, quando eu não quiser mais comer vou simplesmente parar como parei de comer as carnes vermelhas.

- Quanta frescura...

- Hmm... Você come cérebro de macaco?

- Eca! Eu não!

- Come bagos de boi?

- Claro que não, que nojo!

- Come olhos de cabra?

- Nossa... que pergunta!

- Pois é, eu não como carnes vermelhas pelo mesmo motivo fresco que você não come cérebro de macaco, bagos de boi ou olhos de cabra.

- É diferente...

- Não é não, quer pizza de brócolis?

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Esse mar de emoções

Hora em alegria indescritível

quando passa outro momento

e logo vem o desalento

um amor que não cabe no peito

E vendo que ao há outro jeito

Entende que esquecer é inevitável

Deixa que passe em uma brisa

E o vento traz de volta em um sorriso

Aquilo que outrora era insuportável

Aparece com uma nova surpresa

De conforto inexplicável

Com uma energia contagiante

De uma vida que encanta

E logo vem a tempestade

num turbilhão inesperado

O sorriso se apaga

e o amor que cala ao peito

Torna-se improvável

Amor que brotou de solo infértil

Confundido com o aquilo adoece

Padece sem ter nascido

É um aborto voluntário

Do que não deve existir

Da empatia momentânea

confunde-se cada gesto

E nesse mar de emoções

nada faz sentido

as palavras são jogadas

intencionando arrancar-lhe do peito

As rimas não são contínuas

e a razão enfrenta o coração

tornando-se palavras ao vento

de algo não aconteceu

e nunca deveria ter acontecido

Porque amo-te longe de mim

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Escândalo dos Dementadores

Voldmort é acusado de envolvimento no escândalo dos Dementadores, os seres das trevas estariam recebendo propina para deixar alguns Trouxas em paz. De acordo com testemunhas, os Dementadores não sugam as almas dos Trouxas ligados ao bruxo e diversos outros Trouxas relatam que sentiram o beijo dementador repentinamente sem que tivessem tempo de se defender.


Ao que consta, os Dementadores estão saindo dos limites das prisões e agindo em diversos pontos da Prefeitura de Terra de Ninguém, "Eu estava trabalhando e senti o beijo, hoje eu sou um completo demente! Aqueles que estão diretamente ligados ao Voldmort nunca sentiram nada!" afirmou uma das vítimas.


Em entrevista coletiva, o Lorde das Trevas negou todas as acusações "Dementadores são criaturas mágicas que tem natureza própria, não é possível fazer qualquer tipo de suborno" alega o bruxo. Porém, os beijos misterosos continuam a acontecer, aumentando cada vez mais o número de Trouxas dementes na Prefeitura de Terra de ninguém. Os Trouxas que não receberam o beijo alegam desconhecer o caso, não afirmam nem desmentem sua ligação com Voldmort.

domingo, 14 de junho de 2009

A parte inútil da vida

Morungaba


O frio das montanhas me aquece, enquanto a coruja vigia meu sono e o coaxar dos sapos me adormece. As núvens dispersam, um pedaço do céu aparece e as estrelas revelam pontos de luz espalhados até a linha do horizonte. A fria manhã abre com o sol tímido, cobrindo toda a relva e iluminando as gotas de orvalho em cada folha verde e flores que exibem cores e atraem os pássaros que fogem ao clicar dos meus olhos. A noite cai, os sapos coaxam, a coruja pia, as estrelas surgem, eu adormeço e as gotas de orvalho se formam. O céu está ainda mais azul.

domingo, 7 de junho de 2009

Popularidade de Voldmort cresce entre os Trouxas

Após a notícia de que Lord Voldmort teria sido derrotado por um pequeno bruxo supostamente mais esperto que ele, o Lorde das Trevas decidiu investir no mundo dos Trouxas, aumentando muitos pontos em sua popularidade. O bruxo nega que sua ascensão tenha qualquer relação com a suposta queda entre os não trouxas "Nunca fui derrotado e não sofri queda alguma, apenas resolvi ampliar meus horizontes" afirma Voldmort. "Os Trouxas são mais fáceis de lidar e gostam do que eu faço, estou dando-lhes a chance de conhecer as vantagens do meu poder" complementou.


Na manhã de ontem, o bruxo das trevas esteve presente em um evento educacional da prefeitura de Terra de Ninguém e afirmou que investirá ainda mais na educação de pequenos Trouxas. Voldmort aproveitou para distribuir lanche e bater um papinho camarada com seus Trouxas auxiliares e deixou o evento logo em seguida, sem prestigiar as apresentações.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Plástico bolha

Eu adoro plástico bolha, na verdade sou viciado nessas bolhinhas, o som de cada estalo é como música para minhas orelhas. Hoje minha humana recebeu um pacote estranho, não sei o que era e também não interessa. Não sei porque os humanos precisam de coisas dentro do plástico bolha, só sei que  quando ela abriu escutei de longe o som do "plóc, pléc, plóc" e levantei-me prontamente.


Olhando fixamente para as mãos dela compondo aquela sinfonia de Bethoven, eu batia os dentes a cada estourada que eu ouvia. De repente ela parou, quanta audácia! Obviamente ordenei que continuasse, apenas uma pata em cima do plástico resolveu, ela sempre me obedece. Entrei em transe novamente! Outra vez ela parou, e mais uma vez ordenei  que continuasse e ela inventou uma história de que já tinha acabado.


Não acreditei no que ela disse, como assim acabou? O plástico ainda estava na mão dela! Dei-lhe uma patada e resmunguei, arranhei o plástico até que ela estourou mais umas bolhinhas. Nem deu tempo de viajar, ela logo parou e jogou o plástico fora, disse que não tinha mais nada para estourar, fiquei deprimido e voltei pra minha cama. Parece que ele estava com defeito e não fazia mais barulho... Mal posso esperar para que outro pacote entre pela porta e ter meu doce e sonoro plóc pléc plóc outra vez.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Tons de cinza sem estrelas

Eu fechei os olhos e quando abri tudo estava diferente, ou talvez foram os meus olhos que haviam mudado. Senti saudade daquela casa que não era muito grande, mas um perfeito refúgio para sonhar. Quando olhei para o céu, eu descobri que apesar de vivermos sob o mesmo sol e olharmos para a mesma lua, nós não conhecemos as mesmas estrelas. Aqueles homens não viram o que eu vi, e agora as luzes que me cercam ofuscam as constelações. E num ritmo incessante as multidões passam despercebidas aos diversos tons de cinza que cobrem os caminhos pisados sem nenhuma consciência. No meio de tanta mediocridade e dos aborrecimentos que essa consciência carrega, já não sei mais se o pior é saber que não se sabe ou não saber o que se pode conhecer.

terça-feira, 26 de maio de 2009

A Fotografia não é uma janela

 Acoustica


A Fotografia não é uma janela aberta para o mundo, é pintar com luz o mundo aberto para uma tela e registrar o olhar que nunca existiu. É reconstruir na caixa preta a imperfeição mais que perfeita e perceber o silêncio da imagem que recria a própria forma.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Previsível

Por alguma razão seu coração lhe dizia que iria acontecer. É o curso natural da vida e aquela não podia ser diferente. E mesmo sabendo, você não estava preparado, ficou branco, tentando digerir e vendo ir embora a última gota da esperança de que seus pressentimentos estivessem errados. Você sente quando chega, percebe quando vai embora e não há razão lógica para isso, não existe qualquer ligação visível, e ainda assim o coração sente um aperto inexplicável. A fraqueza não te deixa por pra fora, não te dá coragem de encarar e tomar a atitiude que nunca tomou. E tudo que você faz é fechar os olhos e deixar a lágrima cair.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Paixão dos Sábios

O amor sem paixão nos faz irmãos, paixão sem amor nos faz vampiros. O amor nos engrandece e a paixão tempera. A paixão é um veneno no coração dos tolos e combustível na vida dos sábios, eternos amantes e apaixonados pela vida.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Carta ao amigo da escola

Caro leitor,


As estatísticas do blog Unsere Welten apontam que praticamente todos os dias alguém faz uma pesquisa em sites de busca usando os seguintes termos: "Carta ao amigo da escola", "Carta para os amigos da escola", "Carta Amigo Escola", etc.


Atendendo à demanda do blog, resolvemos postar aqui um modelo para os pesquisadores.


"Querido amigo da escola,


Eu te odeio e odeio a nossa escola.


Um abraço,


Seu amigo da escola"


Esperamos que tenha sido útil. Boa carta a todos os amigos da escola.


Redação Unsere Welten

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Inflexibilidade

A inflexibilidade é uma merda. Quando a criatura não consegue se adaptar a um ambiente diferente do qual está habituada, acaba fadada à solidão. Inflexíveis não tem vez nesse mundo, perdem oportunidades, perdem momentos, perdem uma chance única.


Os inflexíveis são tão convictos de si que não conseguem interagir e conviver com um universo diferente, talvez por medo de perder sua verdadeira essência. Tolos são os que não percebem que a essência se mantém cada vez mais forte ao conviver com as diferenças, sejam elas de hábito social ou ideológicas.


Obviamente existem egrégoras incompatíveis pela própria natureza e então a convivência torna-se impossível. Ocorre que a inflexibilidade torna tudo aquilo que foge ao padrão adotado em algo que deve ser negado. Inflexíveis são nossas idéias fixas, nossas crenças imutáveis, nossos hábitos cotidianos que temem o novo e negam a nossa própria vontade.

domingo, 19 de abril de 2009

Conveniência

- Pois é cara... ridículo os deputados terem o direito de cinco dias para dar qualquer resposta à imprensa!


- Nem me fale, os caras fazem o que querem e não podem ser pegos de supresa, dá tempo de os calhordas pensarem na resposta que quiserem.


- Pior é que eles usam nosso dinheiro, enfiam o que eles querem e nem sequer aparecem na câmara para trabalhar!


- Corrupção não tem limite, as vezes fico pensando como conseguem ficar com a consciência tranquila e limpa sabendo que estão fazendo tanto mal.


- Realmente... será  possível que só no Brasil é assim?


- Duvido. Acho que no Brasil a coisa é mais descontrolada, mas a corrupção está presente em qualquer lugar, é uma praga que se alastra pelo mundo. É triste, mas é a realidade...


- Pois é... revoltante! Bom cara... vou nessa que deu meu horário.


- Vai lá! Nessas horas que é bom trabalhar na prefeitura!


- Porquê?


- Dá pra fazer mó esquema, o João assina meu ponto e tá tudo certo, quase não preciso aparecer!


- ...

domingo, 12 de abril de 2009

Páscoa é... Easter is...

Páscoa é dizer sim ao chocolate
é comer sem piedade
lutar por um mundo sem dieta
e investir na obesidade
Páscoa é refletir sobre a balança
e não sentir  peso na consciência
é assumir a bela pança
e tomar cuidado com a flatulência

Feliz Páscoa!

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Easter is to say yes to chocolate
it's to eat fiercely
to fight for a world with no diets
and invest on the obesity
Easter is to think about your weight
and admit your belly can get immense
let your consciousness to wait
and be careful with the flatulence

Happy Easter!

domingo, 22 de março de 2009

Coadjuvante

Almejo algo maior, sair daqui se fosse possível, talvez até quem sabe estar ao lado de algum alicerce de algo mais imponente, um patrimônio histórico, tombado e não esquecido. Já estou cheia de buracos, e camada sobre camada esconde essas marcas do tempo.


Não posso beber, não posso comer, não tenho olhos pra ver nem coração para bater. Vejo tanta coisa passar diante de mim, tantas pessoas que estão sempre do meu lado. Mas se elas falam comigo, é como se fossem loucas.


Gosto desses chamados loucos, assim não me sinto esquecida ou apenas coadjuvante de um belo quadro que é sempre admirado. Venham a mim, loucos! Que bom que lembram que existo! Falem comigo, contem-me suas mágoas! Não sou aconchegante como um travesseiro e posso não responder, mas muitos dizem que tenho ouvidos!

domingo, 15 de março de 2009

Constante

Nada é mais constante do que a inconstância da vida. Olhar e descobrir que o que se vê é o que jamais antes se teria imaginado é como desenterrar um tesouro que jamais pudera ser encontrado. Arriscar sem medo de errar é ter a certeza de que viver com medo é viver pela metade. Nada é mais certo que as incertezas do coração, nada é mais incerto do que  a certeza da razão e  nada é mais simples do que a complexidade das relações humanas.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Eu não posso ler

Eu não posso ler, é dificil. É incompreensível, inconstante. Não que eu não tenha tentado, não que eu não tenha ido pra ler sem a intenção de apenas tentar, fui para fazê-lo. Ocorre que a dificuldade é tamanha que nada passou de uma tentativa falha. Eu de fato lia e então compreendia, ou pensava que compreendia. Mas então ao virar a página, tudo era diferente e não havia qualquer linearidade ou sequência lógica,  simplesmente porque ou não é normal ou não pertence a esse mundo.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Peek-a-boo!

She couldn't find a word to say

Or wouldn't even know what to do

Like a mind getting a delay

In a stupid game peek-a-boo!

It wasn't what she was looking for

but it's what was going to be found

It could be that, nothing more!

just to realize what was going around

She couldn't say "hey, you are not the one!"

As she would miss a friend

Thinking it would just be gone

To find who she really wants at the end.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Uma relação

- Eu gosto de você


- Eu também


- Mas eu não quero namorar...


- Nem eu!


- Perfeito.


- Mas...


- Mas o quê?


- Porque exatamente você não quer namorar?


- E porque haveríamos de namorar?


- Ora, porque eu gosto de você, você gosta de mim... seria até natural.


- Mas não estamos bem assim?


- Estamos mas... sei lá, já que estamos juntos, talvez fosse bom assumir de vez. Não?


- Mas eu assumo! Todos sabem que adoro você,  e também sabem que você gosta de mim. Estamos assumidos, não estamos?


- Pensando por esse lado...


- E tem mais, pensa só: na nossa relação, presentes não são obrigações do dia dos namorados,  então você não precisa se preocupar em lembrar da data, mandar flores ou escrever declamando a lua.


- Mas eu gosto de escrever, e também as vezes sinto vontade de lhe presentear.



- E eu adoro ganhar presentes! Ainda mais quando são assim, espontâneos e sem obrigação.

- Acho que estou te entendendo, somos felizes por estarmos com quem gostamos mas sem a obrigação do namoro.


- Claro, temos tudo que qualquer casal tem, só que somos livres!


- Livres em que sentido?


- Você pode combinar de sair com seus amigos ou viajar e apenas me comunicar, sem que você precise me consultar ou se preocupar se vou ficar chateada,  porque isso é coisa de namorados,  e namorados são chatos e brigam. Nós não brigamos, porque apenas gostamos um do outro.


- Sabe que fico até aliviado por você pensar assim?


- E eu estou aliviada porque você está aliviado porque eu penso assim! Você é do mundo, não para quieto, corre pelos campos que quiser. E foi por essa personalidade que eu me apaixonei por você assim, se você se prendesse a mim, seria outra pessoa. Que graça teria?


- E você não sente ciúmes?


- Que pergunta! Claro que sinto, eu tenho sangue correndo nas veias!


- Ah que bom, ficaria até triste se não sentisse! hehe


- Eu sinto, eu sei que você também sente, mas e daí? Ciúmes eu tenho até de amigos, mas que direito tenho de interferir na vida de quem eu amo? Eu não gosto que interfiram na minha... por isso não temos obrigação de namorados, temos apenas o prazer de estar com quem gostamos! Aliás... nossa, tá em cima da hora! Esqueci de te avisar, to indo pra Alemanha e devo voltar daqui umas duas semanas.


- Mas já vai?


- Sim, tenho que correr pra fazer o check-in.


- Ok! Depois nos falamos então, me liga quando chegar lá?


- Claro né, vou sentir saudades!


- Eu também!


[Pausa para abraço e beijo na boca]


- Tchau!


- Tchau!

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Os bons morrem jovens


Eu te encontrei hoje ao fim da tarde, te dei um pouco de atenção e briguei porque você me mordeu, bronqueei porque você arranhava o sofá e rolou pelo chão brincando com o chinelo. Era a última vez que eu te veria assim, era o último momento mais feliz de nossas vidas antes de você ir embora tão subitamente e sem explicação.  E agora daria o que eu pudesse para ver outro arranhão no sofá, levar outra mordida e coçar meu nariz com os pêlos espalhados pela casa, porque era cedo demais...

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Errante

É por ser louco


Que é tão normal


É por desejar tão perto


Que voa longe


É por ser tão errante


Que acerta sempre


Nos caminhos que escolheu.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O carrinho de tomates

Eu estava decidido dar um outro rumo na minha vida, não queria viver o resto dos meus dias engordando no sofá apenas recebendo aposentadoria. Passados os dois primeiros meses sem trabalhar, já não aguentava mais tanta monotonia, resolvi então investir em uma venda de tomates e verduras. Comprei um carrinho de madeira, com aspecto rústico, perfeito para o que se propunha, era agradável arrumar aqueles tomatinhos vermelhinhos todos juntos. Dava gosto de ver e vender!


Minha clientela era grande, montei a venda em um ponto estratégico do bairro, perto da praça. A cliente mais assídua era Dona Amélia, uma senhora que aparentava seus 65 anos, e comparecia quase todos os dias para comprar meia dúzia de tomates.


Era mais um dia comum e o sol estava a pino, Dona Amélia estava escolhendo seus tomates e algumas cabeças de alface quando ao longe ouvi uma explosão. Um policial rolava no chão escapando do fogo que dominava sua viatura. Logo adiante um homem roubava o carro de um senhor, que acabara de sair da concessionária com o veículo novo. O pobre homem ficou sentado na calçada vendo seu carro ir embora, em completo desespero. E como se não bastasse, o policial que outrora estava rolando no chão para escapar do fogo, abordou um rapaz que dirigia tranquilamente. Apenas ouvi o policial pronunciar "Preciso de seu carro, é uma emergência!", e com uma naturalidade que eu nunca vi, jogou o jovem para fora de seu veículo. O rapaz, desolado, foi então sentar-se ao lado do senhor que tivera seu carro roubado, e os dois puseram-se ali a lamentar o incidente.


Distraído com a cena, assustei-me com o grito de Dona Amélia, que jogou sua sacola de tomates e alfaces para o ar, caindo para o outro lado da calçada, quando um carro desgovernado quase a atropelara. Antes que eu pudesse socorrê-la, outro carro, cujo motorista era um policial que buzinava e gritava "Saiam da frente! Saiam da frente!", avançou em cima do meu carrinho e o colocou abaixo. Todo o meu investimento estava perdido.


Meu nome é Ademir, e eu sou o anônimo que perdeu o carrinho de tomates durante a perseguição em um filme policial na seção da tarde.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A lenda da pomba estúpida

Não posso negar que Jesus tenha existido, embora seja estranho um corpo  simplesmente desaparecer. Mais estranho ainda é entender por que é que o menino teria um pai que não era seu pai, outro pai que era uma pomba e uma mãe que gerou o filho da pomba. Sábias palavras de Caeiro ao narrar a estranha e desestruturada família de Cristo. E mais estúpido que uma pomba, que não era de fato uma pomba, é quem entende que dona Maria jamais teria amado José por fazer constar que Jesus seria filho de uma mulher tão pura que jamais teria se sujado em uma comunhão entre dois corpos.


Ora, se a natureza é tão perfeita talvez por Deus criada, que estranho seria a criatura mais iluminada que já ouvimos falar não nascer da perfeição que é a natureza dos corpos que se amam e geram uma vida pela manifestação mais pura e primitiva do amor. Por que é que Maria precisou de uma pomba que não era pomba e sim um espírito (e santo!) para gerar seu filho? A natureza tão perfeita já provia seus próprios meios. Essa pomba é mesmo estúpida, ou talvez estúpida seja a Maria, que por alguma razão achou que José tinha virado uma pomba e plantou o menino em seu ventre.


Quem sabe essa história seja apenas um conto de fadas, mais irreal que a prórpria Cinderela: ao menos o que era mágico era uma fada, e não uma pomba que não era pomba.


Se Jesus existiu, ele foi fruto de uma noite de amantes, e alguém deve ter contado pra ele e ao mundo a lenda da pomba, assim como contam às crianças comuns que os bebês vêm das cegonhas... no fim das contas, são sempre os pássaros!