sábado, 21 de outubro de 2023

Pulsar

Eu senti meu sangue pulsar.
Breve, mas definitivamente quente.
E do pulsar, uma parte de mim adormecida acordou
só para me lembrar que ela estava viva
capaz de sentir e pulsar de desejo e de calor.
Adormeceu tão rápido quanto acordou,
apenas pelo breve momento
capaz de mostrar que a vida ainda poderia supreender.

domingo, 19 de março de 2023

Carta à atual.

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Eu me solidarizo com você e com tudo que você provavelmente irá passar. Você vai amar, e vai amar muito. Talvez ele corresponda, só não talvez da forma que você espera ou mereça. Você vai se entregar de corpo e alma, e você será capaz de despertar o melhor dele e ele será capaz de despertar o melhor de você. Infelizmente, o pior também. Ele provavelmente irá se esforçar muito por não querer repetir os mesmos erros, por não desejar, do fundo de sua alma, ser tóxico. Talvez ele até diga que te ama. Ele possivelmente terá aprendido a se expressar. Ou talvez não. Talvez você passe um, dois ou três anos esperando o momento em que finalmente as declarações de amor serão recíprocas e ele finalmente responderá o seu “eu te amo” com um “eu também”. Com sorte, você não precisará esperar seis ou sete anos para ouvir ou receber uma declaração de amor mínima, feita pelo simples peso na consciência de nunca tê-la feito. Talvez ele realmente tenha aprendido a fazer tudo diferente e você não se sinta no vácuo e então não precise enfrentar o fim de um relacionamento sem uma única carta de amor para jogar fora, ou queimar, ou qualquer desses rituais de encerramento que corações partidos às vezes fazem. Mas você se sentirá sozinha algumas vezes. Muitas vezes. Possivelmente a maior parte do tempo. Mas tudo bem, porque suas ânsias e dores nunca serão tão relevantes quanto a intensa e devastadora depressão e ansiedade que o assolam por anos de existência. Você provavelmente fará ou tentará fazer de tudo para ajudá-lo a sair do buraco. Em vão. Ele vai querer ficar sozinho, e você o respeitará, claro, porque o ama. Isso poderá se repetir algumas vezes, muitas vezes, tantas vezes que pode começar a doer. Talvez você expresse essa dor, mas ela provavelmente será irrelevante, porque tudo se resumirá ao fato de que você não é e não quer ser egoísta de desrespeitar o espaço dele.

Desejo que você não precise enfrentar acessos de fúria, raiva e, o pior de todos, silêncio duro, dardejante e indefinido. O tratamento de silêncio que te deixará em desespero, por alguns dias, ou algumas semanas, com inúmeras tentativas frustrantes de reestabelecer algum contato e, de alguma forma, consertar o que quer que você tenha feito para deixá-lo assim. Talvez você chore sozinha por intermináveis dias de angústia sem saber se ainda existe um relacionamento ali, com seus amigos e amigas te questionando por que você suporta isso. Mas você segue resiliente, porque o ama, e sabe que isso em algum momento irá passar, mesmo sabendo que, a qualquer momento, tudo poderá voltar. Mas tudo bem, porque haverá dias de paz e vocês irão rir, irão se amar, se divertir e você poderá sentir seu coração quase explodir de amor, ainda que você possa se sentir pisando em ovos, com medo de acionar qualquer gatilho que possa desencadear o pesadelo da raiva seguida do silêncio indefinido outra vez. Com sorte, você talvez não precise ficar escondendo e abafando cada incômodo, cada angústia, pois não vale a pena expressar qualquer coisa sob o risco de deixá-lo tão irritado, e passar anos se perguntando o que você fez de errado, sem obter qualquer resposta, pois a raiva não dialoga e o silêncio não fala.

Quem sabe você tenha mais amor próprio do que eu e aprenda a se levantar da mesa quando o pouco amor servido já estiver frio e o único prato disponível for a solidão a dois. Talvez, com você seja diferente, ou talvez você apenas queira acreditar que seja, afinal, nós sempre somos especiais e nosso amor é sempre mais verdadeiro.

A você, toda a minha solidariedade, sororidade e boa sorte.

quinta-feira, 9 de março de 2023

Liberdade em quatro atos

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Ato I - 11 de setembro de 2021

Você ainda me prende 
e injustamente me faz esperar.
Quando penso que você já foi
eu vejo você no meu celular
Será que você já vai chegar?
Por quanto tempo ainda posso aguentar?
Eu não sei, por enquanto sigo a anotar.

Ato II - No mesmo dia, o pensamento ainda em agonia

Esperar por você virou uma espécie de sina
Eu digo "Já chega!"
Mas ainda a espera é contínua.
Eu espero sem esperar
na esperança de tudo mudar
de um dia você talvez acordar.
Enquanto eu sigo esperando
por um dia que não vai chegar.

Ato III - 13 de setembro de 2021

No meu mundo eu faço café
eu bebo café
eu penso café
eu filosofo café
eu reflito café.
E depois do café eu penso que você é covarde
ou triste
ou confuso
ou cuzão
ou sem noção.
Não consigo chegar a uma conclusão
preciso de mais um café para pensar nesta questão.

Ato IV - 2023, após um longo hiato em suspensão

A espera acabou
Eu matei você
simbolicamente 
dentro de mim.
A liberdade chegou.
Até que enfim!

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Dor sem amor

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Eu vivi com um poeta
Que não sabia a mim poetizar
Ele poetizava a vida
Mas a poesia não podia me amar
Pois ele amava a dor
E a dor que me causava
De viver sem poesia
E sem amor

sábado, 31 de dezembro de 2022

Feliz tudo novo

Que 2023 seja simbólico. 🍾
Que seja renovação. 
Que nós sejamos mais felizes.
Que possamos ver o Brasil feliz de novo.
Que toda a desgraça que nos seguiu nos últimos anos fique finalmente no passado, morta e enterrada.
Que a esperança volte a brilhar, que volte a nos inspirar a criar, a viver, a sonhar.
Que o amor valha a pena. 
Que a vida valha a pena.
Que deixemos para trás o que nos impede de seguir adiante.
Que fiquem enterrados sentimentos que não cabem mais.
Que a dor de deixar para trás possa ser superada. 
Que sigamos... Que eu siga, finalmente, em frente.