domingo, 9 de agosto de 2009

Uma caneta de 37 mil reais

Na vitrine a caneta repousava sobre uma caixa de mogno com detalhes em verde e dourado, forrada internamente com veludo vermelho escuro. O bico de pena e os adornos eram em prata, seu corpo era envolto de um material que eu nao soube distinguir, tão belo quando a cor de uma pérola, porém o tom do material variava como se o líquido perolado tivesse combinado com ouro, condensando a mistura não-homogênea. Não havia qualquer sinal de pedras preciosas ao longo do corpo do belíssimo objeto. Era uma caneta, bela, porém uma caneta. 37 mil reais... em uma caneta. Porque uma caneta?

3 comentários:

Roger Lopes disse...

Pergunta Tostines do dia: É a caneta representada por 37 mil pilas ou as 37 mil pilas representada por uma caneta?

Perdoe a ousadia, mas temo que seria impossível manter a serenidade de minhas noites de sono, caso não untasse minhas aflições aos seus dilemas acerca do valor da caneta.

Como um legítimo admirador deste perene instrumento, abandono meu covil em defesa de minha amiga de 37 mil reás, afinal, antes dessa admirável nova era digital, fora esse objeto por incontáveis vezes, juntamente com seu precursor, o simpático bico-de-pena, fundamental para escrever os rumos da história, fosse ao bem como ao mal.

Nobre por natureza, a incansável caneta tem como importante missão transferir idéias (mesmo as de jerico) de quem a empunha, podendo simbolizar poder, ostentação ou mesmo burrice incondicional. Frente a isso, o que são algumas cifras rabiscadas em papel ou elencadas em qualquer outra representação monetária, visto que é evidente o seu fulcro pragmático da moeda apenas como mero objeto de troca?

O dilema que me angustia a alma não é se uma caneta deveria valer 37 mil paus, mas se o valor de quem pode pagar está à altura dela, pois canetas costumam mudar o rumo do mundo.

Unsere Welten disse...

É uma interessante observação. Acredito, pois, que ao atribuir o valor de 37 mil reais a uma caneta que não possui qualquer valor histórico agregado, exposto em algum museu ou rara coleção, sendo apenas um objeto de luxo exposto nas vitrines de um shopping, toda a idéia que envolve uma caneta é completamente perdida. Um bico de pena com tamanho valor estipulado atrairá a atenção de ostentadores que apenas desejam exibir seu objeto de luxo, usando-o talvez apenas para assinar a compra de algo ainda mais caro. Dessa forma, quem puder comprar a caneta não estará à altura dela.

É certo que grandes idéias comumente nascem da mente de alguém que porta uma mera bic em punhos, cuja tampa nem existe mais. Ou talvez, para enaltecer poeticamente o ato da escrita, usando uma caneta tinteiro, um bico-de-pena, uma pena de verdade e um vidro de nanquim, buscando a atmosfera que envolve o objeto e não apenas o luxo ostentador. Que ostente quem queira ostentar, mas uma caneta de 37 mil reais certamente cairá em mãos fúteis, longe das grandes idéias e bem perto das grandes merdas da humanidade.

Quando a cabeça repousar sobre o travesseiro e uma idéia pairar perturbando o sono, levante, pegue o primeiro papel disponível que encontrar pelo quarto, pegue uma caneta, rabisque até que ela funcione ou rague o papel e você tenha que buscar outra caneta e outro papel, e então eternize as idéias em palavras antes que elas fujam para nunca mais voltar. Quando estiver sentado à mesa de um bar e uma grande idéia ou idéia de jerico surgir da sua incansável mente, pege um guardanapo (ou um pedaço de papel de pão), peça a caneta do garçom e anote tudo.

Essas canetas valem mais do que uma bico-de-pena com adornos em prata e repousada sobre veludo vermelho. E os papéis, quem sabe, terão valor igual ou superior ao de um livro.

Roger, o Menino Javali disse...

Putaquiupariu. Fiz um compêndio acerca da história da moeda e do mocambo para enriquecer sua retórica, mas essa porra deu tilt na hora de enviar. Quando eu estiver menos puto, respondo com minha tradicional empáfia.