segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O carrinho de tomates

Eu estava decidido dar um outro rumo na minha vida, não queria viver o resto dos meus dias engordando no sofá apenas recebendo aposentadoria. Passados os dois primeiros meses sem trabalhar, já não aguentava mais tanta monotonia, resolvi então investir em uma venda de tomates e verduras. Comprei um carrinho de madeira, com aspecto rústico, perfeito para o que se propunha, era agradável arrumar aqueles tomatinhos vermelhinhos todos juntos. Dava gosto de ver e vender!


Minha clientela era grande, montei a venda em um ponto estratégico do bairro, perto da praça. A cliente mais assídua era Dona Amélia, uma senhora que aparentava seus 65 anos, e comparecia quase todos os dias para comprar meia dúzia de tomates.


Era mais um dia comum e o sol estava a pino, Dona Amélia estava escolhendo seus tomates e algumas cabeças de alface quando ao longe ouvi uma explosão. Um policial rolava no chão escapando do fogo que dominava sua viatura. Logo adiante um homem roubava o carro de um senhor, que acabara de sair da concessionária com o veículo novo. O pobre homem ficou sentado na calçada vendo seu carro ir embora, em completo desespero. E como se não bastasse, o policial que outrora estava rolando no chão para escapar do fogo, abordou um rapaz que dirigia tranquilamente. Apenas ouvi o policial pronunciar "Preciso de seu carro, é uma emergência!", e com uma naturalidade que eu nunca vi, jogou o jovem para fora de seu veículo. O rapaz, desolado, foi então sentar-se ao lado do senhor que tivera seu carro roubado, e os dois puseram-se ali a lamentar o incidente.


Distraído com a cena, assustei-me com o grito de Dona Amélia, que jogou sua sacola de tomates e alfaces para o ar, caindo para o outro lado da calçada, quando um carro desgovernado quase a atropelara. Antes que eu pudesse socorrê-la, outro carro, cujo motorista era um policial que buzinava e gritava "Saiam da frente! Saiam da frente!", avançou em cima do meu carrinho e o colocou abaixo. Todo o meu investimento estava perdido.


Meu nome é Ademir, e eu sou o anônimo que perdeu o carrinho de tomates durante a perseguição em um filme policial na seção da tarde.

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