domingo, 11 de novembro de 2012

A realidade fictícia

Se existe algo que mostra que ficção é ficção, uma representação e não um retrato fiel da realidade, esse algo é a relação de causa e consequência presente em qualquer obra fictícia. É importante notar, inclusive, que mesmo um "retrato fiel" da realidade depende do olhar do observador, seja do cinegrafista, seja do fotógrafo. Essa relação de causa e consequência, quando obedecida, impede que haja pontos sem nó em uma história.


Na ficção, ninguém tem uma dor gratuita, se há a informação de que alguém está com dor de cabeça, provavelmente é sinal de algo mais grave (um câncer no cérebro talvez) ou então a personagem está com problemas pessoais/psicológicos/emocionais e, para justificar sua indisposição, dirá que está apenas com dor de cabeça. Nenhuma doença é aleatória, se ela aparece, é porque algo sério ligado à doença vai surgir em algum momento da história.


Na vida real, quando uma mulher diz que está enjoada, logo vem aquele comentário “Ih, está grávida!”, eu tenho certeza que isso acontece por causa dos filmes e das novelas. Afinal, não é difícil passar mal do estômago, comer algo que não caiu bem, enjoar e botar tudo pra fora. No entanto, em uma novela, por exemplo, se uma personagem feminina enjoa, certamente ela está grávida. Isso não tem correspondência necessária com a realidade (eu vomitei nesta semana, mas não estou grávida!).


A ficção não é realidade, como se costuma dizer de uma obra com uma verossimilhança incrível com o nosso mundo. Nossas vidas são repletas de dores de cabeça decorrentes de stress, má alimentação ou outros fatores, sem que isso provoque, necessariamente, uma hecatombe em nossa história. A ficção tem um propósito – seja ele meramente de entretenimento e/ou conscientização político-social e/ou qualquer outra intenção doutrinadora – direcionado, influenciado e manipulado pelo olhar de quem criou. Portanto, muito cuidado antes de olhar para um texto, um livro, uma crônica, um filme e dizer “nossa, é exatamente a realidade”. Não, não é.

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