terça-feira, 24 de novembro de 2015

Por que eu preciso de um dia da consciência negra?

O dia da consciência negra foi há quatro dias e, durante esse tempo, diante de tantos comentários ignorantes acerca desta data, fiquei refletindo sobre o porquê de eu precisar dela. 

Eu preciso de um dia da consciência negra porque eu sou branca, porque sempre me disseram que meu cabelo era bom e porque cresci acreditando que cabelo crespo era cabelo ruim. Porque eu usava termo "gente bonita", e ele englobava pessoas brancas, loiras, olhos azuis, verdes, de cabelo "bom", raramente, ou nunca, negros de cabelo "ruim", com aquela "cara de pobre". Eu preciso de um dia da consciência negra porque eu nunca me considerei racista, era apenas gosto pessoal, e isso não era preconceito. Eu preciso de um dia da consciência negra porque eu nunca havia percebido que a sociedade não nos ensinou a achar o negro bonito como nos ensinou a idolatrar o padrão europeu. Eu preciso de um dia da consciência negra porque nunca senti na minha pele a dor de ser julgada pela cor dela, porque nunca fui barrada em nenhum lugar por ser negra, e porque nunca me chamaram de macaca. Eu preciso de um dia da consciência negra porque, quando ele foi criado, eu achei desnecessário: "dia da consciência negra é algo preconceituoso, se queremos igualdade deveríamos ter um dia da consciência humana", mas eu bem que gostava do feriado e ignorava quem foi Zumbi dos Palmares. 

Eu preciso de um dia da consciência negra porque não fossem os movimentos sociais de emancipação e visibilidade do negro que deram origem a esta data, eu jamais enxergaria o quão racista eu fui, e o quanto todos nós precisamos entender que a igualdade social entre negros e brancos nunca existiu, e que "um dia da consciência humana" nunca iria expor o racismo que existe em todos nós. 

Precisamos todos de um dia da consciência negra. Precisam desta data principalmente aqueles que a repudiam. O Dia da Consciência Negra poderá, quem sabe, deixar de ser necessário no dia em que todos tiverem entendido e aceitado que ele sempre precisou existir.

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