quarta-feira, 2 de março de 2016

Quando ele vem chegando, envolvendo-te num abraço frio, melancólico e aconchegante

E, de repente, antes de chegar, ele já começa a mostrar a cara. O dia amanhece com vento, com chuva. Aquela chuva que se arrasta pelo dia inteiro. Alguns se confundem e logo se afobam, empolgados, achando que o frio de Winterfell finalmente se aproxima: "Ele chegou! Preparem-se, casacos e cachecóis!". Outros, deprimidos, já se sentem a falta do sol, do céu azul, do calor, daquela temperatura que ensopa o corpo de suor. Ele costuma aparecer pela manhã, de mansinho, desencorajando-te a sair da cama mas encorajando a tirar aquela bota do armário, a vestir aquela camisa de manga comprida, a pegar um lenço ou um scarf e envolvê-lo em seu pescoço. Aquele céu amanhece cinza e a chuva fina que insiste em cair ininterruptamente, como uma cena de enterro nos grandes filmes, leva-nos à melancolia, ou a introspecção, ou aos dois, ou à paz. Obriga-te ao guarda chuva, convida ao café, ou ao chá, ou a qualquer bebida confortavelmente quente. E, de repente, no meio do dia, ele resolve se esconder, ou dar uma volta e esquecer a que veio. Aquela manga comprida e o scarf perdem todo o sentido, e te incomodam profundamente. Mas ele volta no fim da tarde, no início da noite, e te abraça, envolve-te lentamente, traz mais um café, um chá ou um chocolate quente, e susurra bem baixinho: "Me aguarde, estou chegando bem juntinho. Outono."

Nenhum comentário: