segunda-feira, 9 de março de 2015

O brilho eterno de uma mente sem lembranças

Eu já quis esquecer, exatamente como acontece no filme. Esquecer parece tornar tudo mais fácil: eliminar a dor e acabar de uma vez com o desconforto. Já desejei me livrar de lembranças ruins ou da dor de um coração partido mais de uma vez. Pesquisadores holandeses já descobriram um meio de apagar memórias especificas, traumáticas - através do que se pode grosseiramente chamar de eletrochoque - para auxiliar principalmente em tratamentos de depressão.

Fico imaginando se a coisa atinge a escala do inimaginável e alcança o nosso propósito de esquecer o que nos causa sofrimento. Ao sentirmos uma dor emocional muito forte, bastaria apagar a(s) lembrança(s) que a(s) causa(m). Haveria gente apagando vidas inteiras: a existência de alguém que morreu, anos de relacionamentos amorosos culminados em decepção ou frustração de um coração partido, acidentes traumáticos, experiências negativas que resultaram, de alguma forma, em algum aprendizado. E, de repente, os mesmos erros estariam sendo repetidos um atrás do outro por pessoas repletas de buracos existenciais. Sem a referência da dor, já nem saberíamos o que é felicidade.

Mas confesso, já quis mesmo esquecer. Apagar a memória por raiva ou apenas por não suportar o sofrimento que tira o sono, a fome, apaga as cores, elimina os aromas e os sabores. Ter memória seletiva seria útil em determinadas fases da vida. Que a felicidade não é uma constante e que ela é um meio e não o destino, já sabemos, duro mesmo é a contradição de desejar esquecer nossos sonhos mais doces, as memórias mais lindas e os momentos mais felizes em nome de apagar a tristeza que essas lembranças atualmente nos causa. Talvez seja apenas um paradoxo temporal, ou talvez precisemos delas para perceber que estamos vivos e que somos capazes de rir e de chorar com a mesma emoção e intensidade.

Um comentário:

marinices disse...

Esquecer seria bom por um lado, mas por outro não seria porque são esses momentos que fazem de nós quem somos... infelizmente. <3