sexta-feira, 24 de junho de 2011

O vazio compartilhado

A solidão pode despertar diversas sensações, mas a mais estranha consequência desse sentimento contemporâneo é a necessidade de publicação online do atual estado de espírito: “Estou deprimido”; “Nossa, como estou cansado hoje!” ou simplesmente escrever "Estou feliz". E ainda tem aquela garota que terminou com o namorado, mas precisa anunciar ao mundo, na expectativa de que apenas uma pessoa leia, a imagem de uma mulher realizada: “Estou curtindo muitooo! Esse fim de semana promete!”.


Há também a necessidade de compartilhar o espírito de porco de dizer que encheu a cara no fim de semana, com um orgulho besta de seu grande feito acoólico, ainda que não tenha acontecido de fato: “A festa de ontem foi muito foda! Bebi muito!”; e de preferência mensagem é publicada com uma foto do sujeito acompanhado da cachaça.


Desabafar o cotidiano nessa forma de palavras aleatórias, concatenadas sem a formalidade lógica da linguagem escrita, não é uma prática recente, ainda que nos tempos de outrora houvesse um sentido de introspecção um pouco mais amplo. E naquele tempo era comum o uso do diário, aquele caderno cheio dos segredos mais obscuros de um indivíduo escritos de forma desordenada como os pensamentos, e que ninguém deveria saber, mas estavam ali para ser descobertos e lidos em um livro pessoal.


Com a globalização virtual, não existem mais mistérios a serem descobertos ou segredos a serem revelados, o diário caiu em desuso. Originou-se esse universo paralelo de explosão de introspecções superficiais, um compartilhamento de pensamentos vazios e escancarados que ninguém está interessado em saber; a internet virou um grande espaço para verdadeiros monólogos virtuais; um mundo de vazio propagado, cheio de ações sem reação, onde todos querem falar, mas poucos querem ouvir.

Um comentário:

mércia disse...

Você é incrível!
Mércia