quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A tristeza é parte de nós

A tristeza é parte de nós, da nossa natureza mítica, trágica. É através dela que somos capazes de reconhecer o que é felicidade. E quando a dor aflora, ela nos acompanha por determinado tempo até que, sozinha, ela se dissolva e se dilua, deixando apenas uma lembrança de algo longínquo. Até lá, o sofrimento persiste, faz parte do dia a dia e acabamos aprendendo a lidar com ele. Um sorriso não significa, necessariamente, serenidade ou alegria, ele pode representar a necessidade de continuar, sem se entregar por inteiro à tristeza que nos consome por dentro. E quando, de repente, as lágrimas voltam a cair, não é mais uma recaída, é apenas a válvula de escape para a pressão interna causada pela dor crônica. Não há tempo certo para cessar as dores, acalmar as angústias, não há palavras certas que resolvam; tampouco as frases e discursos do senso comum ajudam, pelo contrário, machucam.


Quando minhas lágrimas vierem, deixem-nas em paz; preciso libertá-las. Ainda que essa dor não esteja cessando com a rapidez que você imagina ou acredita que deveria acontecer, não tente me mostrar a realidade, fazer-me cair na real com duras palavras, mesmo que você se importe comigo e que me ver sofrer doa no seu coração. Agradeço a preocupação, o carinho, mas tenho conhecimento prático dessa dor e sei que não dura para sempre, e mesmo assim preciso mergulhar nela sem reservas. Não me diga que não vale a pena, que é preciso seguir em frente e esquecer, eu sei que isso é verdade, mas eu não quero ouvir, não agora, não consigo ouvir sem que isso seja um espinho cravando fundo na dor. Simplesmente esteja aí, me ofereça seus ombros, seu abraço, seus ouvidos e, se for me oferecer palavras, que sejam para tentar arrancar algumas risadas do meu pesado semblante.


A esperança, normalmente ilusória, é, muitas vezes, necessária enquanto a dor persiste, como um analgésico para aliviar um tormento constante; ela, como dizem, é a última que morre, mas ela morre, e a tentativa de forçar a sua morte apenas cutuca uma ferida aberta. Um dia ela morrerá naturalmente juntamente com o sentimento que a alimenta; por enquanto ela está em coma, sobrevivendo de lembranças e até o momento que ela vá embora sem que seja preciso fazer a eutanásia. A visão externa é sempre mais clara e fácil do que aquela de quem está vivenciando a dor, mas não é possível forçar a visão de ninguém. Apenas o tempo pode agir, não dê conselhos os quais você mesmo não seria capaz de seguir.


Eu sei, eu já vivi, eu me lembro do que já sofri, e racionalmente sei que a gente sempre supera. Quem não tem memória é o coração, ele parece ignorar a razão e os fatos. Mas, um dia, quando este estiver novamente inteiro e a saudade não for uma faca afiada e cortante, me lembrarei de tudo e serei capaz de narrar mais essa etapa da minha história referindo-me a mim em terceira pessoa, com a visão de quem sofreu, superou e, mais uma vez, aprendeu. Quando esse dia chegar, poderei me libertar da máscara que uso e da personagem que interpreto diariamente para satisfazer a necessidade que a sociedade tem de receber o meu sorriso.

2 comentários:

marinices disse...

Eu espero seu sorriso, mas sem pressa, no tempo dele.
Pois sei que ele vai volta :)r

Alexandre Pereira Nunes disse...

Eu também! :P