quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Oi, tudo bem?

“Não”, poderia ser a resposta. Mas que estranho seria dizer a um estranho que não está tudo bem, não é? Certamente eu não gostaria de ouvir os problemas de quem não conheço ou não tenho intimidade, e a recíproca normalmente é verdadeira (desconsiderando os curiosos pela vida alheia). Entretanto a sociedade tem esse insuportável hábito de perguntar: “Oi, tudo bem?”; “Olá, como vai?” E lá vem a resposta padrão: “Bem, e você?”; “Olá, vou bem, obrigado(a).” Não sei quem foi o infeliz que começou com isso, mas se ele estivesse vivo, deveria ser punido com requintes de crueldade.


Esse cumprimento diário não poderia ser reduzido apenas à primeira interjeição? Eu me sinto a pessoa mais mentirosa do mundo quando alguém me pergunta sobre o meu estado de espírito nos dias em que ele não está vivendo sua plenitude. Não que estejam verdadeiramente interessados no meu bem estar, na verdade, ninguém liga de fato, a pergunta é mera formalidade, tal qual é a resposta. Mas quando nada está bem e eu respondo “tudo bem”, logo em seguida, mentalmente, eu respondo: “não, não está tudo bem, está tudo péssimo.” É inevitável, eu preciso ser sincera, nem que seja em silêncio. Se você for meu amigo, ao me fazer essa pergunta, ouvirá um sonoro não. Posso até não falar o que está acontecendo, mas você receberá toda a minha sinceridade.


Às vezes recebo ligações de bancos que estão a oferecer algum serviço e, como uma íntima amiga, a atendente diz: “Olá, Roberta, tudo bem com a senhora?” Aí eu respondo “não.” Bom, mas nesse caso eu sempre respondo não, mesmo que no exato momento da ligação eu esteja vendo passarinhos verdes voando sobre o arco-iris e vislumbrando o pote de ouro ao final dele. Sabe como é, desestabilizar os atendentes dá um certo prazer sádico.


Mas, para não sentir desconforto por mentir, a melhor resposta pode ser “vou indo”. Acho que não existe melhor expressão para definir um estado de espírito desestruturado sem chocar quem a recebe. Você está indo, é verdade, se não estivesse, estaria morto. Indo pra onde eu não sei, pode estar indo para o buraco, para o abismo, rumo ao desconhecido ou, quem sabe, ao paraíso, mas é sempre algum lugar, não é? E o melhor é que, geralmente, aquele que perguntou não se aprofundará no assunto, e se tentar fazê-lo, basta desconversar com uma risadinha sem graça.


E aí? Tudo bem com você? Eu vou indo.

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