domingo, 19 de agosto de 2012

Mais uma carta para você

Olá, há algum tempo não lhe escrevo. Há meses que eu não me preocupava em quando você viria, eu sabia que em algum lugar você estava, então bastaria deixar o tempo encontrar a oportunidade de unir nossos caminhos. Ocorre que deixei mesmo de escrever porque julguei tê-lo encontrado. Eu não tive dúvidas que era você e deixei-o entrar. Ele entrou e ocupou lugar destinado a você, me entreguei a ele sem reservas, e agora escrevo para pedir que não apareça, não agora, pois se você aparecer, não saberei reconhecer, não há espaço para você aqui dentro, meu coração não está livre. Por favor, não venha, não enquanto eu não liberar o espaço, e eu não sei quando isso vai ocorrer. Poderá levar meses? Anos? Eu não sei, para falar a verdade, no momento não estou nenhum pouco preocupada com a sua existência, simplesmente porque eu quero, eu desejo que ele seja você.


Sabe, ele chegou devagarinho, não me despertou uma paixão fulminante, e então conquistou meu carinho, meu afeto, aproximou-se pelas ideias, encantou-me pelo olhar, e então tocou meu coração. Por um momento te reconheci e, sem medo, deixei-o entrar, era você afinal. E então ele foi embora. Por que você demorou tanto? Por que deixou que eu me enganasse tanto e alguém ocupasse seu lugar aqui dentro? Eu não faço ideia de como tira-lo daqui, não suporto essa dor e não consigo me livrar dela. Eu não sinto sua falta, sinto a falta dele. Isso tudo é culpa sua, se tivesse aparecido no lugar dele eu não estaria sentindo tanta dor, e dói tanto que nem os livros, meu maior escape, conseguem me fazer esquecê-la por um único momento.  Eu trocaria, se pudesse, essa mazela pelas piores cólicas que já tive, pelas piores enxaquecas, por uma dor de ouvido insuportável, por um soco no estômago ou por um osso quebrado. Mas eu não posso, essa dor é minha e só eu posso conviver com ela. Então fique longe de mim, não apareça, eu não quero saber de você, não agora, não hoje.


Sem mais. Até, talvez, um dia.

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