sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Por que escrever? (Dia do blog)

Hoje é dia do blog. Quantos blogs existem por aí? Milhares? Milhões? Uma infinidade deles expressando coisas úteis, fúteis, inúteis, agradáveis, desagradáveis, com ideias, vazios, engraçados, deprimentes, tristes, alegres, desenhados, escritos, poéticos, prosaicos. Palavras; significantes e significados. O meu é mais um, eu sou mais uma. Por que tantos escrevem? E por que eu escrevo? Talvez eu pudesse responder com propriedade ao menos a segunda pergunta, mas nem para esta posso desenvolver uma resposta satisfatoriamente clara.

O mundo virtual acabou abafando o antigo diário – tão íntimo, tão reservado – e escancarou-o ao mundo, milhares de ideias, pensamentos, divagações são jogadas na rede e compartilhadas para quem quiser ler, ver ou ouvir. Se antes era preciso conseguir um livro publicado ou arrumar espaço no jornal para se expor literariamente, hoje basta ter uma ideia na cabeça e acesso à internet.

Eu não sei por que escrevo, por que compartilho minhas ideias mesmo sabendo que poucos lerão, e destes, um número menor ainda vai absorver alguma coisa. A tecnologia, no entanto, permitiu-me tirar meus pensamentos de dentro da minha cabeça, ou alguns deles, passíveis de registro, e jogá-los ao vento, para alguém pegar ou simplesmente para estar à disposição de quem quiser fazê-lo, mesmo que ninguém o faça; sejam minhas angústias, sejam as minhas reflexões, sejam minhas opiniões, meus contos ou crônicas, eles estarão por aí. Acho que percebi que é egoísmo guardar minhas impressões só para mim, bem como é inconveniente forçá-las a quem não quer recebê-las. Acredito que é por isso que escrevo e publico, as ideias que consigo (e quero) registrar são servidas para a degustação daquele que quiser provar.

Já dizia Bernardo Soares, heterônimo de Fernando Pessoa, em seu Livro do Desassossego: “Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir”. E assim escrevo; desabafando, opinando, criando, construindo e desconstruindo. Seja bem vindo ao meu mundo em comunhão com nossos mundos (unsere Welten) – ao entrar nele, o fará por sua conta e risco – puxe a poltrona, deixe o encosto na posição que lhe aprouver, afrouxe o cinto, sirva-se do chá, dos biscoitos e boa viagem.

Art Poétique (Fragmento II)

Diário de viagem sem viagem
ou carta sem nenhum destinatário:
palavras que, no máximo, interagem
com outras palavras do dicionário.
Um escrever que é verbo intransitivo
que se conjuga numa só pessoa.
Um texto reduzido a substantivo
menos que abstrato: se nem mesmo soa,

como haveria de querer dizer
alguma coisa que valesse o vão
e duro esforço de fazer sentido?

Por outro lado, a coisa dá prazer.
Dá uma formidável sensação
(mesmo que falsa) de estar sendo ouvido.

(Paulo Henriques Britto)

Feliz dia do blog. Já começou o seu?

Um comentário:

Adriano Tardoque disse...

A sensação de estar sendo ouvido... Tão importante quanto ser ouvido de fato. Meus monólogos são diálogos comigo mesmo, Quando escrevo, e jogo minha rede, pretendo pescar outros de mim que estão espalhados, para se encontrarem comigo, ao ouvir meu canto. Ainda que permaneçam em silêncio.